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A eterna assimetria

Alguém disse que não podemos descansar enquanto houver mais astrólogos do que astrónomos. Eu reforçaria esta ideia dizendo que não podemos descansar enquanto a iliteracia científica gozar de uma tolerância que não se estende à iliteracia tout court. Por que motivo confundir a redução da camada de ozono com o efeito de estufa* é interpretado como uma calinada mais benigna do que trocar Thomas More por Thomas Mann - que  pode ter sido um simples lapso (uma gralha verbal)?  Por que motivo não perceber este argumento do Filipe Moura é pretexto para reacções de uma certa leveza juvenil  que raramente ocorrem no contexto das humanidades? Porque nas Humanidaes vigora uma irrepreensível clareza de raciocínio? Ou porque o risco de enxovalho público é maior? A pergunta era retórica, mas não a seguinte: como se explica que esta inibição social não chegue já também às ciências? Se as notícias são cada vez mais técnicas (a crise é económica), se o ensino da matemática se transformou numa questão de Estado, se Vasco Pulido Valente já não se vangloria há uns bons 20 anos de ser uma nulidade a subtrair (cito de cor, mas creio que a memória não me atraiçoa), se na transmissão do testemunho do grande intelectual público luso  (Eduardo Lourenço - Prado Coelho - Pacheco Pereira), entendida aqui como um indicador de uma tendência  e não pela sua importância intrínseca, houve um inegável aumento da atenção dada à ciência, e se - embora me custe terminar com um exemplo pela negativa - alguns cursos emblemáticos das humanidades estão em crise de vocações, só podemos estar perante uma inércia brutal. E quando a inércia der sinais de desaparecer, será imprudente festejar, porque devemos depois avaliar a resiliência do fenómeno, mas - passo a arrogância - isto é capaz de ser uma conclusão algo críptica.

 

* Para ser rigoroso, há uma contribuição dos CFCs para o efeito de estufa, mas que é menor. Os sprays - que lançam CFCs na atmosfera - devem a sua má reputação essencialmente à  sua contribuição para o buraco de ozono. É formalmente impossível saber se o Rodrigo Moita de Deus se referia na sua graçola de oportunidade ao efeito menor dos CFCs para o efeito de estufa - e nesse caso usar a piada dele para ilustrar o post foi uma piada minha do tipo autodepreciativo e involuntário -  ou ao buraco de ozono, mas inclino-me para esta segunda hipótese - por, digamos, pessimismo antropológico.

 

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