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Cláudia Vieira fora das bermas de estrada

Não tenho a pretensão de vir a ser acusado de plágio, mas admito à partida que li há uns dias este post do Pedro Mexia. Os textos pedem o mesmo - a atenção da Cláudia Vieira, bem entendido - mas há algumas diferenças. A começar, o Pedro endereça a sua carta a uma entidade privada e eu exijo mais regulamentação por parte do Estado - o que faz todo o sentido e, perante declínio da ideologia, chega a ser reconfortante. A seguir, o Pedro preocupa-se com a erosão pública da sua fantasia e só é hipócrita na sua preocupação com a fantasia do outros e eu, absolutamente hipócrita, preocupo-me apenas com a segurança dos condutores. Por fim, diferimos na apreciação estética, mas não vos quero maçar mais.

 

 

Li na imprensa especializada que a actriz Cláudia Vieira suspeita de que nas cenas íntimas “aparecem, por vezes, pessoas no plateau que não parecem estar ali por razões totalmente profissionais”. Sem ousar discordar, ocorreu-me que nas minhas deslocações diárias totalmente profissionais, quem aparece é a Cláudia – e em trajes bastante íntimos. Ora bem, sustento a tese de que a presença na praça pública de uma Cláudia de lingerie de ligas é um atentado à segurança rodoviária. Ainda ninguém quantificou os acidentes que, não se devendo a aselhice, embriaguez, intempérie, estado do parque automóvel ou das estradas, resultam de uma desatenção provocada pelos anúncios, mas creio que fortes interesses se opõem a este escrutínio. De outro modo, não percebo como se autoriza ecrãns com imagens que fazem da A5 uma sala de estar e anúncios radiofónicos com buzinadelas de carro que tomamos por reais. É neste contexto que sou pela imposição de uma distância mínima de segurança que impeça a presença de imagens de Cláudia Vieira junto das estradas –impor a prisão domiciliária à própria Cláudia foi ideia que, a custo, abandonei.
 

A mudança nos costumes, que banalizou o sexo e subiu a fasquia daquilo que é considerado impróprio, transformou a publicidade à lingerie em sublimação sexual colectiva. Sobre soutiens escreveu Prado Coelho uma crónica de antologia e sobre a nossa Cláudia pode um jovem entabular conversa com a sua avó a propósito do tamanho da copa ideal. Afinal, as grandes imagens do final do século passado são os alemães a destruir o muro de Berlim à martelada e o peito de Eva Herzigova no aconchego do Wonderbra. Ora, com o aumento da qualidade da publicidade rodoviária aumenta o perigo para os condutores. O anunciante põe ligas na Cláudia Vieira e o consumidor agradece. De resto, protestar contra tais imagens vem com duplo pejo, porque “não é de homem” e é “um atentado à liberdade de expressão”. Mas o ónus da prova não é meu. Prove-se então que não estamos perante um problema real – bastaria calcular a frequência de acidentes em determinados trechos de estrada, antes e depois dos outdoors com fotos de Cláudia Vieira serem substituídos por fotos de Jorge Gabriel.
 

O código da publicidade tem 8 restrições para anúncios sobre álcool e proíbe a publicidade ao tabaco e ainda aos jogos de fortuna – sendo a única excepção as iniciativas da Santa Casa. O que há de comum no álcool, tabaco e jogo? O prazer e o vício. Então por que motivo não aparece o sexo nesta lista? Porque o sexo na publicidade não é uma mercadoria, é um veículo de transmissão. Nada contra. Mas repensemos o que queremos ver quando vamos ao volante. Atafulhem-me pois a caixa de correio com a Cláudia Vieira, mas afastem-na para sempre das bermas da estrada -  uma regra que, em contraste com o carácter de excepção concedido à Santa Casa para o jogo, qualquer legislador com bom senso faria ainda aplicar com reforçada fiscalização e ad eternum,  caso a moça venha a ser canonizada.
 

Este texto era para o Metro, mas embora a 1 de Dezembro de 1640 tivesse ficado determinado que o jornal não seria editado hoje, só me dei conta disso ontem.

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