O sábio e o seu canário
Há um modelo de programa de divulgação que junta em diálogo um especialista e um leigo. O leigo representa o público-alvo do programa e está lá para monitorizar a compreensibilidade do que o sábio diz, um pouco como os canários que os mineiros usavam para avaliar a qualidade do ar, mas com a vantagem de poder intervir e tornar claro o que parecia críptico. É uma grande fórmula. Entre nós, salvo erro, estes programas têm uma assimetria de género na distribuição de papéis mais rígida que entre os frequentadores do Animatógrafo do Rossio e dos saldos dos Armazéns do Conde Barão. As mulheres - umas mulherzinhas, em regra - fazem de canário e os homens - por vezes, anciãos - fazem de sábio. Ouvi hoje o Nuno Crato com uma rapariga cujo nome não fixei. Júlio Machado Vaz tem sempre uma mulher ávida das suas palavras. António Vitorino de Almeida passeava-se com Bárbara Guimarães, tendo aqui o modelo atingido um apuro formal inultrapassável. Mário Soares explicava coisas a Clara Ferreira Alves. Como os melhores profissionais na minha área e da minha geração são mulheres, é possível que estejamos a uma geração de ver uma mudança.