Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

jugular

a derrota de pacheco pereira

Pedro Santana Lopes vai mesmo ser o candidato do PSD a Lisboa. Ao fim de um par de meses em que o próprio se anunciou disponível e a distrital de Lisboa o votou como candidato perante o silêncio ostensivo de Ferreira Leite, a improvável - inacreditável, não se desse o caso de ter sucedido - possibilidade passou a facto. Sobre o que isto diz de Santana (e do que Santana acha de si) mais o que diz de Ferreira Leite e do PSD começa a ser penoso falar, a não ser para concluir que todos estão a fazer, com grande competência e dedicação, o que é suposto para entregar, mais tarde ou mais cedo, a direcção do partido ao até agora ardilosamente sensato Passos Coelho.

Interessante mesmo é analisar a situação do ponto de vista do mais notório estratego de Ferreira Leite, o mais aparente e aparatoso inimigo dos populismos, das "facilidades" e das "incoerências" de que Santana é o lídimo representante. Não só por Pacheco Pereira (sim, é ele) ter sido, de forma despudorada, deixado cair pela sua dama, numa das mais cruéis traições da política portuguesa recente e em mais um falhanço da sua desastrada carreira partidária, como, sobretudo, por ter mostrado a sua incapacidade, como analista e comentador, de avaliar personalidades, prever percursos e pesar estratégias.

Como pôde Pacheco Pereira enganar-se assim a respeito de alguém que conhece há tantos anos, política e pessoalmente? É Manuela Ferreira Leite uma assim tão boa actriz ou foi Pacheco Pereira que, desejoso de acreditar ter enfim encontrado a criatura perfeita para dirigir o PSD por interposta pessoa, se enganou a si próprio? Certo é que, esgotado o seu prazo de utilidade como propagandista da "seriedade" e "credibilidade", o homem que mais incensou a rectidão da líder, o seu carácter tão tão superior ao dos outros candidatos, as suas tão extraordinárias experiência e visão políticas e lhe guardou a vitória numa terna fotografia de groupie, viu prescindidos os seus serviços. Como ri Menezes, como ri Santana do seu arqui-inimigo. Como ri Passos Coelho, a quem chamou "velho jovem", a quem acusou de ser nada mais que um aparelhista e reduziu a "uma imagem" (e que era a Ferreira Leite das "nobres rugas" nos close-ups da RTP senão uma imagem?).

O homem que ontem dizia, na Quadratura do Círculo da SIC Notícias, ponderar votar em Santarém em vez de em Lisboa para não ter de encarar a hipótese de pôr a cruz em Santana sofreu uma das maiores derrotas da sua dupla condição de político e comentador. Não seguramente a primeira - tem aliás o simbolismo trágico de um prémio de carreira. Um prémio ao contrário, como ao contrário estava o símbolo do PSD nos seus escritos anti-Menezes e anti-Santana. Ao virar de pernas para o ar a seta do partido nesses tempos que julgou esconjurar e que regressaram com o rosto da sua candidata, Pacheco Pereira estava afinal a fazer o auto-retrato. Mas triste triste é que a sua derrota não seja a de um justo que nunca quis sujar as mãos, de um romântico que nunca se fez à intriga. Triste é que ele tenha realmente querido e tentado, e seja mesmo e sobretudo falta de jeito

 

(piblicado hoje no dn)

16 comentários

Comentar post

Pág. 1/2

Arquivo

Isabel Moreira

Ana Vidigal
Irene Pimentel
Miguel Vale de Almeida

Rogério da Costa Pereira

Rui Herbon


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anónimo

    The times they are a-changin’. Como sempre …

  • Anónimo

    De facto vivemos tempos curiosos, onde supostament...

  • Anónimo

    De acordo, muito bem escrito.

  • Manuel Dias

    Temos de perguntar porque as autocracias estão ...

  • Anónimo

    aaaaaaaaaaaaAcho que para o bem ou para o mal o po...

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

blogs

media