Tragédia
As leituras moralistas do conflito Israelo-Palestiniano devem ser evitadas. Ao contrário do que muita gente insiste, o problema não é a natureza extremista do Hamas e a sua rejeição do Estado de Israel. O que me parece importante é não fortalecer as posições extremistas. Mas a lógica da violência, legítima ou não, só gera mais violência. Por isso é que não podemos dizer simplesmente que Israel está a combater o terror e a agir de forma legítima —devíamos dizer que Israel também está a alimentar uma lógica, a mesma que diz querer eliminar. A ideia de que Israel se está a defender, não colhe pela simples razão que Israel está a fazer aquilo que já fez no passado e que contribuiu para o contexto actual: responder a violência com violência. Invocar 'legimitidade moral', para além de pressupor uma certa cegueira pelo destino colectivo dos palestinianos, é irrelevante para a solução do problema — supondo que queremos de facto solucioná-lo.
Num certo sentido, a única lógica coerente é a dos extremistas, que lidam bem com a morte e a destruição. Estes são os únicos que se reconhecem verdadeiramente nos seus actos: eles matam porque querem matar. O que Israel não pode fazer invocar uma consciência limpa e supor que as suas intenções sejam algo independente das consequências efectivas dos seus actos. A ideia de que as acções de Israel e do Hamas não são moralmente equiparáveis, pressupõe uma teoria moral que postula uma separação estrita entre intenções e consequências, que, quando levada ao extremo, é de uma perversidade absoluta.
Na prática, Israel mata; e mata muito mais do que os Palestinianos. E isso tem de ser relevante, sob pena de nos refugiarmos numa cegueira moralistas irresponsável. Na prática, Israel é extremista e é totalmente responsável pelo sofrimento que causa, pois não existe qualquer possibilidade de intervenção 'cirúrgica' que vise apenas as infra-estruturas do Hamas. Por isso, não querer matar nunca pode ilibar ninguém.
Com isto não pretendo decretar a inocência do outro lado, nem pretendo legitimar nada. O que não aceito é que os 'amigos de israel' invoquem o Estatuto de auto-defesa, como se o Hamas tivesse surgido num vazio e decidido, por pura maldade, atacar uma nação inocente. O Hamas é extremista, mas ele tem a força que tem porque existe uma história de injustiça e sofrimento que não pode ser ignorada e na qual Israel tem responsabilidade. Enquanto essa injustiça não tiver uma resposta cabal por parte de Israel (e da comunidade internacional) é obsceno invocar-se o conceito de legimitimidade e apoiar Israel.