Sokal de novo
Este ano completam-se 50 anos da célebre Conferência Rede proferida Charles P. Snow em Cambridge. «As Duas Culturas e a Revolução Científica» criticava o divórcio entre os «intelectuais literários» e os «cientistas naturais», divórcio esse que muito recentemente levou a jugular ao rubro. O post que deu origem à polémica, «Transgredir as fronteiras: em direcção a uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica», contava a partida bem-humorada de Sokal para denunciar as tolices científicas e a vacuidade do discurso* debitados por alguns intelectuais da moda.
O London Consortium vai assinalar o cinquentenário da palestra de C. P. Snow com uma conferência de três dias envolvendo o Science Museum, a Tate Modern e a Universidade de Londres. O «Art and Science Now: The Two Cultures in Question» pretende revisitar o tema convidando um painel que reúne figuras proeminentes das duas culturas que discutirão a sua actualidade. Como anuncia a Tate:
«Joining with the Science Museum, Tate Modern invites leading figures from the worlds of arts, science and public policy to revisit this question. With the new prominence of information technology, genetics and climate change, has the gap between arts and sciences narrowed or grown even wider in the last fifty years?»
O último dia do evento, dedicado ao público em geral, terá lugar na Tate no sábado dia 24 de Janeiro. Este será «A day of public lectures from renowned figures in the field». Entre os convidados tem lugar de destaque... Alan Sokal, pois claro!
* Karl Popper foi particularmente esclarecedor quando descreveu o estilo adoptado por estas luminárias:
“[há] loucuras que não devemos tolerar. Antes de mais, a que leva os intelectuais (…) a escreverem num estilo petulante, impressivo (...). Este estilo, o estilo das palavras grandiloquentes, obscuras, impressivas e ininteligíveis, este estilo deveria deixar de ser admirado ou sequer tolerado. Ele é intelectualmente injustificável. Destrói o bom-senso e a razão.” in «Em busca de um mundo melhor».