A Crise. E se a vendêssemos? [Luis Moreira]
Como se esperava, o BdP veio confirmar as piores previsões. Só confirmar, porque há muito que os empresários que mantêm contacto com as empresas lá fora recebiam essas informações e, bem pior, viam as suas carteiras de encomendas encolherem. Cá dentro, a ordem era gerir expectativas, deixando para o mais tarde possível o anúncio das más notícias. Mas a realidade, mais tarde ou mais cedo impõe-se, e o futuro próximo é negro. O emprego, ou a falta dele, é a prioridade das prioridades. Sabemos que as PMEs representam 70% do emprego. Porque é que esta realidade não se impõe em medidas concretas? Até agora vimos o governo "segurar" bancos e grandes empresas. O investimento que se promete é dirigido às grandes empresas. Decisões vão no mesmo sentido, como é exemplo a bem recente de entregar por ajuste directo as obras públicas até cinco milhões de Euros. É hoje pacífico, para a maioria dos observadores, que as grandes empresas que constituem a coluna dorsal da economia portuguesa há muito que não respondem às necessidades de uma economia competitiva, moderna, aberta ao exterior. São as PMEs que asseguram a produção dos bens e serviços transaccionáveis, que inovam, que competem em mercados abertos, onde a inovação e a competitividade são argumentos decisivos. As grandes empresas nacionais ou operam em quase monopólio ou em quase cartel. Esta "docilidade" leva-nos sempre aos mesmos resultados. Um país pobre e a afastar-se e a divergir da média europeia. As empresas recentemente orgulhosas dos seus imensos lucros e "performances" empresariais estão hoje a pedir a "bênção" do Estado. Como é isto possível, em escassos meses? Porque grande parte dos seus resultados resultavam, não do seu "core business", mas de actividades financeiras! Esta relação Estado/grandes Grupos económicos levar-nos-á, periodicamente" a crises, ao empobrecimento permanente, porque não conseguimos uma economia sustentável, competitiva a nível global. Mas é possível, como mostram sinais aqui e ali, ainda incipientes, mas também já casos de sucesso a nível global. Empresas que trabalham com a NASA! Se alguém dissesse isto há dez anos seria crismado de demente! Investigação científica reconhecida ao mais alto nível científico! Empresas a lançar medicamentos inovadores disputados a preço de ouro nos mercados mais competitivos. E tudo isto foi conseguido com uma política coerente e sustentada nos últimos anos, com apoios específicos por parte deste governo. Ainda só investimos cerca de 1,1% do PIB mas os resultados começam a aparecer. A Espanha investe cerca de 1.2% a Itália cerca de 1.4% para não falar dos países mais fortes. São estes bens e serviços que podemos vender lá fora (e, já agora, que não precisaríamos de comprar lá fora) que pode dar um pontapé na crise permanente em que o país vive há séculos. Entre investir nas empresas de sempre e manter a crise em "incubadoras" douradas, que tal exportá-la?
PS: Claro que os "atentos" de serviço me vão dizer que os mercados que recebem as nossas exportações também estão em crise e não há quem compre. Mas também é claro que se não começarmos a trabalhar já os outros vão chegar primeiro! Aí está uma oportunidade de ouro que a crise nos dá! Mudar a malha da economia, eis o verdadeiro sentido que nos deverá nortear!
Luis Moreira