Vocês sabem de que autocarro estou a falar
Custa-me escrever isto. Gosto de Richard Dawkins. Dawkins é um brilhante divulgador de ciência e o homem que me induziu a primeira crise existencial, quando me convenceu que o altruísmo aparentemente puro é uma ilusão. O problema de Dawkins foi o excesso de convívio com os evangélicos americanos. Antes, Dawkins escrevera um livro escorreito que desmonta a tolice do Criacionismo e do "Intelligent Design", mas a partir dos encontros com os evangélicos ensandeceu (o que não surpreende). A sua actual cruzada ateísta é patética (mais do que a de Hitchens, que me parece ser sobretudo uma boa oportunidade de negócio). O autocarro ateu não faz sentido porque o único ateísmo lógico é necessariamente passivo, defensivo, sempre vigilante, mas no limite apenas pontualmente reactivo. Só não seria assim se fosse possível provar não a inexistência de Deus, mas a possibilidade de o homem viver sem religiões. Ora, a História e a Psicologia dizem-nos já que tal não será nunca possível. Nem o mais fervoroso crente na engenharia social como ferramenta de transformação do homem pode defender tal cenário. Sendo assim, o ateísmo pró-activo, mais do que patético, é sobretudo contraproducente, porque funciona como uma simples caixa de ressonância que reforça o peso das religiões dominantes ou então cria brechas para que apareçam outras seitas, tendencialmente piores. Pois bem, entre Policarpo e aquele aldrabão da Igreja do Reino de Deus, prefiro Policarpo. Correndo o risco de passar por arrogante, isto parece-me mais ou menos óbvio.