tristes costumes -- a sequela
há uma semana, critiquei o facto de a psp ter avalizado de imediato a versão de um seu agente que matou um rapaz de 14 anos em circunstâncias ainda não esclarecidas (nem então nem agora). quase todo o feed back que recebi, quer neste blogue quer por mail para o dn, foi no sentido de que pôr em causa a versão da polícia é "defender os bandidos". não faltaram sugestões a raiar a ameaça, como é aliás costume de cada vez que escrevo sobre violência policial -- e faço-o há 20 anos. por o fazer há 20 anos, estou infelizmente muito familiarizada com o 'modo de fazer' das versões oficiais, dos inquéritos (disciplinares e criminais) e dos processos em que os arguidos são polícias acusados de homicídio.
gostaria de, neste caso -- como em muitos outros -- me ter enganado na suspeita de que a versão apressadamente cozinhada no sentido de desculpabilizar o agente ou agentes envolvidos não seria a mais conforme aos factos. claro que, mesmo sendo a versão exacta, manteria a crítica: é impensável que a polícia de um estado de direito democrático conclua, horas após a morte de alguém, sem tempo para inquérito, autópsia e demais perícias, que um tiro na cabeça foi legítimo. mas o que mais me custa é ao longo de 20 anos ver sempre os mesmos métodos e a mesma defesa corporativa de actos criminosos e de mentiras. quero poder confiar na polícia -- e assim é impossível.
não, vou dizer isto de outra forma: exijo uma polícia de verdade. que respeite a verdade, pugne pela verdade, fale verdade. e lamento ver que este tipo de ocorrências indigna tão pouca gente. a verdade, pelos vistos, não merece muito respeito. e a vida, bom, depende muito.