O que mudar no ensino da economia
Surpreendeu-me a prontidão com que, interrogado sobre a necessidade de se reverem os currículos dos cursos de economia, Campos e Cunha respondeu há dias na SIC-N que, no seu entender, é preciso ensinar filosofia aos estudantes para melhorar a sua capacidade de reflexão aprofundada sobre os assuntos. Certíssimo, diria eu.
Surpreendeu-me também, mas negativamente, o Luis Aguiar-Conraria ao afirmar, questionado por Medeiros Ferreira, que nada há a mudar porque, afinal, tudo o que é relevante em matéria cientítica já lá tem cabimento. Eu esperaria que ele opinasse que não há muito a mudar, pelo menos de significativo - mas deixar tudo na mesma?
Já recentemente abordei o tema da responsabilidade de certas teorias económicas na erosão da confiança das instituições económicas, com particular ênfase no ensino da gestão. Mas talvez seja chegado o momento de, embora brevemente, tentar ir um pouco mais fundo.
A investigação que se faz no âmbito da economia é, em geral, séria e profícua. O principal problema está no modo como ela é embalada para ser ensinada aos estudantes universitários ou para intervir em debates públicos sobre temas de política económica.
Em geral, eu diria que, ao contrário do que pretende o Luís, em Portugal como em todo o mundo, os currículos escolares se encontram infectados de ideologia de um tipo muito particular. De outro modo, como explicar a voga que durante demasiados anos teve nas universidades a teoria das expectativas racionais, algo que se encontra tão afastado dos princípios do são raciocínio científico como o chamado Intelligent Design?
Hoje, é possível estudar-se economia com escassíssima referência a outros factos económicos que não aqueles que podem ser facilmente acomodados pelas teorias dominantes. Acima de tudo, há um evidente défice de cultura história na formação dos jovens economistas.
A base empírica de uma parte substancial das teorias ensinadas é, principalmente no que respeita à microeconomia, extremamente ténue ou mesmo inexistente. Em contrapartida, os alunos são submetidos a intensa lavagem ao cérebro com doses cavalares de modelos matemáticos abstractos de duvidosa relevância. Keynes e Hayek concordavam em classificar isto de pseudo-ciência.
Não será então altura de se começar a pensar em reformar seriamente este estado de coisas?
(Ler também, sobre esta polémica, uma série de posts dos Ladrões de Bicicletas.)