Religiosidade recauchutada
“There is grandeur in this view of life, with its several powers, having been originally breathed into a few new forms or into one; and that, whilst this planet has gone cycling on according to the fixed law of gravity, from so simple a beginning endless forms most beautiful and most wonderful have been, and are being, evolved.”
Charles Darwin
Se por religiosos entendermos aquelas pessoas que acham que existe uma ordem natural das coisas — uma realidade objectiva, uma verdade que a que o homem se deve submeter — então a demanda 'existencial' da ciência não passa de religião recauchutada e uma versão moderna e simplificada (e amputada) do ideal Platónico de contemplação. No fundo, pretende simplesmente encontrar algo que nos diga como o mundo é, aliviando-nos da responsabilidade de existir. É o eterno consolo da objectividade, essa grande desresponsabilizadora.
(Se Freud tivesse analisado a sua própria perspectiva , aquela que ele contrasta com a imaturidade das religiões (a neurose obsessiva da humanidade), ele não teria outra alternativa senão a de se encontrar reflectido na posição que críticou nos outros. Podemos mesmo dizer que, apesar de todas as suas diferenças, Freud, Darwin e Nietzsche padecem todos do mesmo mal. O seu amor fati não é mais do que um desejo de objectividade, a necessidade de evadir o peso da responsabilidade humana)