Mais bárbaros versos latinos
Tal como aconteceu há meses no Equador, as reacções católicas noutro país da América latina a uma nova Constituição, em que o catolicismo deixa de ser a religião de Estado, desmentem as efabulações dominicais de Vasco Pulido Valente.
A nova Constituição boliviana, que foi referendada no mesmo domingo em que o «Oportunismos» viu a luz do prelo, foi antecedida de uma feroz campanha política em que a religião foi a protagonista . De acordo com a LifeNews, «The nation’s Catholic bishops launched an educational campaign to warn of the pro-abortion dangers in the document and said the proposed constitution "contains various contradictions and an impreciseness that could make its application difficult».
A religião foi igualmente o tema dos anúncios mais frequentes da oposição: «Sabeis que querem tirar Deus da Bolívia?», «Não sejas cúmplice do pecado. Vota não» e «Escolhe Deus. Vota Não». Noutro momento de propaganda a favor do Não, dois rapaze beijam-se enquanto uma voz off condenatória carpe : «se aprovar a Constituição será permitido o casamento de homens com homens e mulheres com mulheres».
De facto, embora nada na nova constituição contemple o aborto ou o casamento homossexual, esta não consagra a sacralidade de óvulos, espermatozóides e embriões.Para além disso, garante a auto-determinação sexual e reprodutiva, algo inadmissível para a igreja católica que não se coibiu de o fazer saber, assim como tornou pública a sua condenação da escolha de «as famílias» e não apenas «a família» para o texto.
Não sei se VPV vive na Lua ou em Saturno ou se o seu pensamento se desenrola em círculos que transformam o mundo numa imagem «higienizada» às suas conveniências. Só assim consigo perceber que escreva sem pudor que «a Igreja, como o Papa mil vezes lhe recomendou, já vive sem o Estado e mesmo contra o Estado. Preferia que o Estado respeitasse a moral católica; não a tenta, como antigamente, impor.»