A vitória de Sócrates?
Os últimos dias poderão ter sido de viragem, menos pelos factos concretos - as declarações de Manuel Pedro, o complexo do Ultimato, a imagem de incompetência da Serious Fraud Office - do que pelo que se vai topando nas opiniões. No Sol, o o arquitecto Saraiva remata a sua coluna comparando Sócrates a Vale de Azevedo, a propósito de uma suposta capacidade de auto-convencimento. Quando chegamos a este ponto, percebe-se que Sócrates nem precisa de entrar no jogo da vitimização; a diabolização que lhe fazem na imprensa é a sua verdadeira mais-valia. Perante isto, só se for descoberta alguma irregularidade mesmo grave (tradução: ter entrado dinheiro numa das suas contas particulares) é que ele cairá. Tudo o que seja menos do que isto e fique pelo mero tráfico de influências, algum nepotismo, algum laxismo, soará a anticlímax e será tolerado pelo eleitorado e por Cavaco Silva. A imprensa está de parabéns por ter pegado no caso. Mas a imprensa, ao criar como referência o cenário da corrupção à séria, pode vir a acabar por branquear eventuais comportamentos cuja revelação, num contexto mais pacífico, teria sido suficiente para fazer cair o Primeiro Ministro.