Bloody foreigners!
Ao ouvir as notícias hoje, veio-me à cabeça o "it starts!" que o Pumba diz, a certa altura, no Rei Leão. "Já começou!". E, digo eu, não vai acabar tão cedo. Refiro-me a isto: numa refinaria no Norte de Inglaterra, há protestos, manifestações e turbulência local contra a contratação de trabalhadores estrangeiros, nomeadamente portugueses e italianos. Foi com espanto que ouvi um representante sindical lá da terra falar da defesa dos postos de trabalho, exigindo ao governo britânico medidas proteccionistas. Que é feito da solidariedade operária? De uma penada, e quase imperceptivelmente, assisti, na minha mente, ao fim do ideal europeu. Da livre-circulação de pessoas, bens e serviços, do mercado de trabalho, do Protocolo de Bolonha. Tudo belas ideias do tempo das vacas gordas. Porque quando elas emagrecem, tudo isto se esvai. Citando agora a Leila / Natassja Kinski: Like spit on a griddle!. E o mais doloroso é que não são os poderosos banqueiros da finança ou os gatos gordos do apparatckik a exigir protecção e barreiras contra o exterior. São os trabalhadores e os sindicatos. Não são uns quantos descontentes. São protestos de milhares que ameaçam alastrar a outros sectores e regiões, com cobertura sindical. Não há aqui racismo ou propriamente xenofobia. Há, apenas, medo do espectro do desemprego. E este é profundo, cego e pouco permeável a explicações racionais e argumentos sensatos.
Bloody foreigners!, disse um português que lá está, que é a expressão que ouve quando passa por "eles". Ainda não houve ameaças nem agressões. Mas o germe está lá, e não tardarão. Aliás, parte dos portugueses já abandonou, por prudência, a região. Curiosamente, os serviços noticiosos não prestaram grande importância a isto. É mais um sinal do imediatismo dos media, passe o trocadilho. Talvez quando a coisa tomar outras proporções, o que me parece inevitável, com o agravamento da crise social por toda a Europa. Temo o pior.
A oeste (neste caso, a sul) nada de novo. Mas prevejo (e aqui não preciso dos dotes divinatórios do Criswell) que a onda também cá chegará, quando começarem as manifestações de descontentamento por a empresa X ou Y empregar cabo-verdianos ou ucranianos numa zona socialmente deprimida. Um país de imigração e de emigração, simultaneamente. E nessa altura, se verá de que fibra são feitos os nossos políticos e, sobretudo, os nossos sindicalistas. Confesso que já estive mais optimista a este respeito.