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vão mas é de carrinho

No último fim de semana, com parte da Baixa fechada ao trânsito por causa da repavimentação da Rua da Prata - e como tardou -, um taxista comentava, escarninho: "Vêm aí as eleições, já começam as obras". Pode ser que o taxista tenha razão e que a equipa de António Costa, ao fim de um ano e meio a governar Lisboa, tenha só agora arrancado para a acção por motivos que se devem também ao calendário eleitoral. Mas, seja qual for o motivo, é de celebrar que finalmente haja uma empreitada para tapar buracos - e como os lisboetas, mais os saltos dos sapatos, pneus e jantes agradecem - , que se iniciem as obras para certificar o fim do despejo directo dos esgotos no Tejo (um escândalo q ue envergonha toda a gente) e, jóia da coroa no que respeita aos moradores e amantes da Baixa, entre os quais me incluo, um plano para acabar com o trânsito de atravessamento na zona.

É claro que vai ser chato. Obras é sempre chato. Pó, lama, ruas cortadas. Ninguém gosta e toda a gente resmunga. E mudar hábitos enraizados também custa muito - mesmo que seja para melhor. Mas há uma coisa chamada "bem comum" e há sobretudo uma coisa chamada "bem". O bem, por exemplo, de, se o plano for aprovado e for para a frente, se poder passear nas ruas da Baixa sem ser sufocado pela fumarada e estremecido pelo estrépito de um trânsito demente. O bem, por exemplo, de quem vive nas ruas da Prata ou do Ouro passar a poder abrir as janelas e não sentir a casa tremer nas horas de ponta. O bem de quem ali reside ou quer visitar uma determinada loja poder sair de um táxi à porta, em vez de ter de andar quilómetros (é proibido parar nas ditas ruas).

Evidentemente, estes bens não são para toda a gente. Quem passa de carro na Baixa vindo de não sei onde para ir para não sei onde, de janelas bem fechadas, e que acha que ali não mora ninguém e que para ir às compras é no Colombo terá grande dificuldade em perceber por raio haverá de encontrar caminhos alternativos e andar às voltas quando por ali é sempre a direito. Parece até que o Automóvel Club de Portugal ameaça processar a autarquia se avançar com as restrições de tráfego na Baixa. Será um processo interessante e absolutamente simbólico do que está em questão: os carros contra a cidade. Até agora, todo o planeamento de Lisboa foi feito a pensar no tráfego automóvel e na sua fluidez. Tudo o resto foi visto como secundário ou mesmo inexistente. É normal que quando finalmente se tenta introduzir algum equilíbrio na gestão da cidade e começar a dar primazia às pessoas, os carros se enraiveçam e tudo façam para manter o seu império. Porque é mesmo disso que se trata: se ganham os carros ou a cidade, os carros ou as pessoas. É bom que todos os que querem uma cidade e não uma auto-estrada percebam que há um a guerra, e que é preciso lutar. Por mim, vão de carrinho.

 

(publicado hoje no dn)

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