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debate
«Entre Portugal e Espanha:
a luta em prol da memória histórica»
Com a participação das historiadoras
Irene Pimentel
Joana Lopes
Associação O Bacalhoeiro
(R. dos Bacalhoeiros, 125, junto à Casa dos Bicos - Lisboa)
25 de Fevereiro | 22h
Em torno do artigo «A luta em prol da memória republicana espanhola»,
de Jean Ortiz, publicado no número de Fevereiro
do Le Monde diplomatique - edição portuguesa (ver excerto abaixo).
* As duas escrevem no blog Caminhos da Memória e a Joana escreve também no seu blog individual, Entre as Brumas da Memória, onde, a propósito deste debate, faz uma clarificação ao anúncio "«Historiadora» não sou - quando muito memorialista amadora e con mucho gusto."
A luta em prol da memória republicana espanhola
por Jean Ortiz *
Em Espanha, simples cidadãos e magistrados estão a conjugar a sua acção para sacudir o «pacto de esquecimento» que continua a encobrir as atrocidades cometidas sob o regime franquista. Num país profundamente dividido sobre esta questão, há militantes que procuram incansavelmente as valas comuns para onde foram atirados os republicanos fuzilados pela ditadura e que tentam, apesar das resistências surdas com que deparam, reabilitar a memória dos vencidos.
«Numa grande parte de Espanha, aquilo a que chamamos guerra civil foi apenas repressão; o golpe de Estado militar [do general Franco] foi imediatamente seguido de um plano de extermínio.»1 Os progressos obtidos pelo Movimento de Recuperação da Memória, galáxia de militantes e voluntários existente à margem dos partidos políticos, bem como o trabalho efectuado pelos historiadores, permitem‑nos ter hoje outra visão daquilo que fora de Espanha tem sido encarado apenas como uma «guerra civil». De resto, basta examinar a cartografia das valas comuns onde nos últimos anos foram encontrados os restos mortais de republicanos, para constatar que esse mapa coincide com as regiões onde o levantamento militar venceu de imediato.
O objectivo dos franquistas não era apenas ganhar a guerra, consistia em destruir a República pela raiz. Daí a sua semântica: «depuração», «purificação», «limpeza», «pacificação». As atrocidades, aliás, continuaram após o fim da guerra, tendo sido fuzilados cinquenta mil republicanos nos meses subsequentes. «Franco [tinha decidido] avançar lentamente, para que fosse impossível um retrocesso», notou o historiador inglês Paul Preston2. [...]
1 Francisco Espinosa, «Historia, memoria, olvido: la represión franquista», em Arcángel Bedmar González (dir.), Memoria y olvido de la guerra civil y la represión franquista, Delegación de Publicaciones del Ayuntamiento de Lucena, Córdova, 2003, pp. 101‑102.
2 Paul Preston, La guerra civil española, Debate, Barcelona, 2006, p. 313. [A Guerra Civil de Espanha¸ Edições 70, Lisboa, 2006.]
* Responsável pela edição de Rouges. Maquis de France et d’Espagne. Les guérilleros, Atlantica, Biarritz, 2006.
Continue a ler este artigo no número de Fevereiro do Le Monde diplomatique - edição portuguesa.