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jugular

75 anos de Vel d'Hiv

Quando, em abril deste ano,  Vel d'Hiv entrou na campanha eleitoral para as presidenciais escrevi no meu facebook introduzindo o descurso de Chirac em 95,

 

«Não é preciso ter vivido em França para se ter a noção da forma complicada como a memória coletiva do país lida com a 2ª guerra. Gostam de se imaginar como uma "nação de resistentes" e, por isso mesmo, o Vel d'Hiv é talvez aquilo que mais lhe fratura a narrativa heróica. 

É muito interessante observar a forma como, no discurso polítco, se lidou com os acontecimentos de 16 de julho de 1942. Durante muito tempo não se falou do tema. De Gaulle, mais tarde reforçado por Miterrand, "resolveu" o assunto considerando que era responsabilidade do regime de Vichy e que este não representava verdadeiramente a França. Só em meados da década de 90 e pela mão de Chirac se muda de agulha e se assume que França é responsável (com uma pequena nuance muito interessante, é ao "estado francês" e "a franceses"e não a "França" e "aos franceses" que são imputadas responsabilidades). 
O discurso de Chirac nessa altura é muito interessante, tem tudo aquilo que é mito nacional - a pátria dos direitos humanos, etc, etc, insistindo na ideia de poucos franceses colaboracionistas - mas, pronto, há uma rutura clara com a forma oficial com que se lidava com aquela dolorosa memória (não por acaso, um dos que mais esperneou com isto foi Le Pen pai). Ah! Pormenor não irrelevante, o discurso de Chirac que fez a diferença aconteceu durante a guerra da ex-Jugoslávia.»

 

 

Hoje apetece-me mostrar Miterrand, é o exemplo perfeito de uma certa estratégia - "escapista"? - de lidar com a "memória nacional".E esta estratégia lembra-me tanto acontecimentos recentes em Portugal.

 

Adenda: o testemunho de Arlette Testyler, uma das crianças sobreviventes "On a été arrêtées à 5 heures du matin, on est venu nous chercher comme si on était des criminelles, c’était très bien organisé, très bien orchestré."

 

Adenda 2: Já depois de ter escrito este post Macron falou nas cerimónias do 75º aniversário e acabou de fechar o círculo, é a primeira vez que um presidente fala em "a França". 

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3 comentários

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    Shyznogud 17.07.2017

    Olá, João, boa noite 


    A linguagem conta e a forma como até Chirac se falou no assunto ilustra bem isso, havia "A França" e havia Vichy, entendidas como 2 entidades diferentes. O discurso de Chirac foi muito importante em 1995, mas a tal nuance que referi quase permitia guardar um tom ambíguo que hoje foi completamente estilhaçado
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    joão viegas 17.07.2017

    Ola, compreendo a reacção ao discurso, mas julgo que ele deve ser devidamente enquadrado no contexto. Os Franceses foram habituados a olhar para Vichy como nos olhamos para o Estado Novo, ou seja como um poder opressivo ilegitimo. Disso ainda depende muita coisa, entre as quais o lugar que a França tem na comunidade internacional (membro permanente do conselho de segurança da ONU, etc.). E' claro que muitos deles se instalaram no conforto do "Vichy não somos nos" e que isto implica muita hipocrisia. Não contesto isso.  Mas, da mesma maneira, penso que alguns Portugueses reagiriam mal se lhes disséssemos assim de repente : "48 anos de fascismo não teriam sido possiveis sem uma anuência, pelo menos relativa, da maioria da população". No entanto, ha provavelmente alguma verdade nesta afirmação.

    A decisão de assumir a responsabilidade do Estado francês veio pôr em causa este conforto e esta hipocrisia.  As partes esquisitas do discurso devem ser, também, consideradas como concessões numa altura em que a decisão de fundo estava longe de ser obvia (ainda hoje ha quem respingue, como se viu recentemente com a Marine Le Pen). Percebo que se torça o nariz, mas não se deve ocultar que a decisão foi corajosa e acertada.

    Boas
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