Mais grave que negar a importância do uso do preservativo no combate à disseminação do HIV é Bento XVI afirmar que "pelo contrário, isso só irá complicar a situação". Isto é de uma irresponsabilidade sem nome, ultrapassa tudo o que é razoável.
É cansativo, quase desesperante, estar a explicar o óbvio pela enésima vez. Andamos há 25 anos com este diálogo de surdos, mas aqui vai mais uma vez, como missão de cidadania e salvação intelectual:
- A Igreja tem uma presença de séculos em África; independentemente dos juízos morais e políticos que essa realidade também convoque.
- A Igreja opera na área do serviço social, ajudando as populações mais miseráveis do Mundo (as que estão em África, precisamente).
- A Igreja lida directamente com a SIDA na região do Mundo onde a doença tem mais infectados e mais doentes.
- A Igreja especializou-se em cuidados a doentes de SIDA e campanhas de educação.
- A Igreja sabe que os preservativos, por si só, não diminuem as infecções, podendo até dizer-se que contribuem para as aumentar.
Agora, muita atenção: é fácil, escandalosamente fácil, explicar o aparente paradoxo, ou contradição, entre a "distribuição de preservativos" e "o aumento das infecções" (ou, pegando na expressão citada, a complicação da situação). Mas não o vou fazer para não ofender a tua inteligência.
Claro, não haverá nada de errado com a tua inteligência. O que se passa é que os preconceitos são fodidos, e atacam à direita e à esquerda, nos religiosos e nos seculares. E é disso que se vai fazendo a História, enquanto não soubermos fazer melhor.
Discordamos em absoluto, Valupi, não consigo abdicar da minha visão médica sobre um assunto de indole essencialmente... médico. De acordo com o que disseste, não me parece que haja qualquer mutilação da informação, lamento.
Nem só de medicina deve viver um médico. A tua posição é profundamente ignorante, e em várias dimensões do problema.
Quanto à mutilação da informação, fazes crer que a Igreja (através da citação ou notícia em causa) quer impedir o uso dos preservativos por parte daqueles que têm relações de risco ou que não compreendem a mensagem católica. E pensares assim, se assim pensas, é triste. Mas é um problema teu, não dos católicos ou daqueles que a Igreja ajuda.
«A Igreja sabe que os preservativos, por si só, não diminuem as infecções, podendo até dizer-se que contribuem para as aumentar»
Isso é justamente o mais escandaloso do que o Papa disse. Gostaria que o Valupi o explicasse, já que parece ter compreendido como é que o uso do preservativo contribui para a aumentar a SIDA...
Não se trata do objecto preservativo, mas da estratégia de só usar o preservativo. Por aí não se estará a ir à raiz do problema, o comportamento de risco.
Ricardo, o Papa respondeu a uma questão, a qual começa por circunscrever a resposta. E falou espontaneamente, se poder voltar atrás para substituir frases passíveis de fácil manipulação pelos inimigos da inteligência. Não se tratou de uma mensagem pensada prévia, longe e cuidadosamente para desenvolver a temática do preservativo. Mas em tudo o que diz está o sentido da estratégia e os inerentes comportamentos de risco. Como é óbvio.
Tens de insistir contigo mesmo para ver o que lá está.