No debate sobre a igualdade no acesso ao casamento civil surgiu um tipo especificamente local: o do desconservador. É o conservador que desconversa. Não usa os argumento da Igreja Católica nem os dos que são favoráveis a uma união registada em vez do casamento. Não quer ficar conotado como reaccionário, muito menos como homofóbico. Mas não quer, de modo algum, aceitar a alteração. Na ausência de argumentos que não sejam baseados em formalismos jurídicos ou em definições de conceitos estabelecidos, desconversa. Não defende convictamente uma visão do mundo, uma ideologia. Não ataca convictamente outras. Desconversa. A discussão é um jogo de salão em que o que conta é quem tem a última palavra numa disputa. É a transposição para a esfera pública do simples gozo da discussão pela discussão entre amigos. Falha nisto uma coisa, aliás gravíssima: o reconhecimento de que o que diz afecta as vidas dos outros. E só dos outros.
7 comentários
António Parente 18.03.2009
Estimada cristã
Acordando a meio da noite por causa da tosse do meu filho e não querendo ler a lista extensa de comentários, pode explicar-me o porquê da acidez do Miguel Vale de Almeida e da algazarra que vai por aí abaixo?
António (Parente): n encontro acidez no Miguel (VA). O que não há é pachorra para diletantes que se arrogam ao direito de discutir as vidas dos outros (e que em nada interferem com as deles) em conversas de salão.
E, já agora, o que é isto, António??? "Deixem o casamento sossegado(...)" Pedro Pestana Bastos dixit
Em primeiro lugar, permita-me que a cumprimente e que lhe manifeste publicamente o meu respeito, a minha profunda admiração pela sua postura cristã (ambiciono um dia atingir o seu nível de tolerância e amor pelo próximo) e pelo seu enorme charme vertido em palavras.
Não conheço o Dr. Pedro Pestana Barros para comprovar se a sua afirmação de diletante é verdadeira ou não. Por isso prefiro não comentar.
Permita-me discordar quando afirma que "não afecta a vida dos outros". Afecta, sim. Quando vamos num transporte público e vemos dois rapazes num beijo apaixonado, que no meu tempo e em calão se chamava popularmente "um linguado" e quando vemos ao lado pessoas de uma geração inferior à minha manifestarem o seu incómodo, censura e reprovação pela cena vivida, então é porque a vida de alguns ainda incomoda muitos. Talvez daqui a uma ou duas gerações a situação mude (o que duvido, diga-se) mas não me parece que o simbolismo do casamento vá modificar isso. Há um longo caminho a percorrer e o caminho faz-se caminhando, não correndo porque quando se corre pode-se tropeçar e voltar ao início o que é sempre desagradável.
caro antónio, perante tanta pobreza (pobreza de muita fome, mesmo) que se vê nas ruas haja quem se sinta incomodado e ofendido com os beijos apaixonados. ai, Cristo, Cristo
além disso, não estou a ver como é que a igualdade no acesso ao casamento civil vai agravar esse já agora tão grave problema que são os beijos no autocarro. nem isso, nem o contrário: quando os meus pais namoravam os tais linguados em público eram proibidos e, contudo, eles casaram. veja lá, António, como são as coisas.
Não vai agravar nem desagravar. De certeza que uma lei não mudará a forma como muita gente olha a homossexualidade e aliena o apoio de outros que poderiam ser potenciais apoiantes se o tema não se tivesse convertido numa causa política dita "fracturante". Quem quer "fracturar" quer romper com qualquer coisa. É natural que haja pessoas que sintam essa "fractura" como uma "agressão" por que gostam da forma como as coisas estão. O que fazer? Abrir-lhes a cabeça à paulada ou tentar mostrar que os seus receios e medos não são reais? Parece-me que o caminho legislativo é essa "paulada". É fácil, é barato, é uma vitória "fracturante", e continua tudo na mesma em termos de mentalidades. O que é uma pena , do meu ponto de vista.