onomástica, parte anterior
adoro a palavra putsch. infelizmente, é pouco usada, sendo mais comum a expressão 'golpe de estado'. ora putsch, de origem alemã (na internet, dicionários anglófonos garantem que foi cunhada a partir de várias revoltas na suíça nos anos 30 do século xix), tem uma ressonância clássica, a preto e branco, de reuniões secretas em caves escuras, botas altas, peliças e marchas sombrias com tilintar de esporas e espadas. tem também uma ressonância de falhanço e transitoriedade -- não sei porquê, espero sempre que à palavra putsch se siga o qualificativo 'falhado'.
dizem os dicionários que se trata de 'revolta planeada, tentativa súbita de derrubar um governo, especialmente a que depende da surpresa e da rapidez'. também pode ser 'um golpe súbito'. podia ser um belo nome para um blogue, não me ocorreu. também pode ser apropriado para o que sucede em blogues -- quando há grupos a tentar derrubar os governos dos blogues, claro, ou quando se quer fazer crer que é disso que se trata. é capaz também de ser passível de utilização quando um governo se ausenta para voltar a seguir (eisenstein retratou uma armadilha do género em ivan o terrível e luis filipe menezes tentou o mesmo -- com bastante menos sucesso, hélas) -- a isso também se chama 'golpe de teatro'. quanto a poder ser aplicado como descrição ou epíteto de uma ruptura, bom, é uma ideia. tipo 'houve um putsch na relação entre a mariazinha e o manelinho: foi cada um para seu lado'. para quem tiver uma ideia -- e uma prática -- conspirativo-politiqueira da vida, há um putsch em cada esquina e uma facção em cada ajuntamento de mais de uma pessoa. o que decerto torna a vida muito mais colorida, ainda que um pouco paranóica. mas to each his own, live and let live, etc.

