adenda ao post anterior
não está em causa se o livro referido -- que não li -- é bom, mau ou assim assim. está em causa o nojo absoluto do processo de intenções, ao nível da mais abjecta inquisição. está em causa assassínio de carácter e perseguição. está em causa a tentativa de criação de um clima intimidatório em que os eduardos cintra torres desta vida se acham no direito de insultar seja quem for que não pareça comungar dos seus ódios de estimação.
eduarda maio tem o direito de escrever os livros que lhe apetecer, sobre quem lhe apetecer. eduarda maio tem o direito de exercer a sua profissão e o cargo para o qual foi nomeada e escrever livros ao mesmo tempo sobre o que e quem lhe aprouver. eduarda maio até tem o direito de ter ideias sobre o mundo, e até ideias políticas, se lhe der na gana, e exprimi-las e votar em quem lhe apetecer, e simpatizar com quem lhe aprouver -- isso não a incapacita em nada para as funções de jornalista. e foi também para isso que se fez o 25 de abril -- imaginem -- para que as eduardas maios possam fazer e ser e pensar e dizer e escrever o que lhes aprouver.
o anúncio da rdp é infeliz. chamar-lhe fascista, inconstitucional ou até, como faz cintra torres, 'horror', e ver nele uma manobra pró-governo seria apenas de uma risível tolice se não fizesse parte do intolerável clima de perseguição que existe neste momento em portugal e em relação ao qual não tenho, nos meus anos de consciência política e de actividade como jornalista, lembrança da mais remota semelhança.
não conheço, por acaso, por mero acaso, eduarda maio. nunca trabalhei com ela, não sei se é simpática ou antipática, nem sequer, para ser franca, conheço o seu trabalho como jornalista. como jornalista, só posso julgá-la pelo seu trabalho -- e é apenas por ele que pode como jornalista ser julgada. é inadmissível que alguém ache que pode julgá-la como jornalista por uma correlação de factos como a que eduardo cintra torres aponta. é inadmissível e é uma vergonha que tanta gente rasgue as vestes por causa de uma merda de um anúncio e não tenha um ai perante a tentativa de assassínio profissional de uma pessoa por ter dado voz a um anúncio -- não por ter como jornalista participado num anúncio (até porque se trata de um anúncio da rádio em que trabalha e como tal como ser integrado no sistema de auto-promoções dos meios de comunicação social) mas porque esse anúncio supostamente é 'pró- governo' e anti-manifestações.
fascismo, meus caros, é o sistema de pensamento único que tenta aniquilar os seus adversários de todas as formas possíveis, criando um vocabulário de novos crimes e um catecismo de novos pecados.
eduardo contra torres e apaniguados querem no fundo dizer isto: uma pessoa que escreveu uma biografia do primeiro-ministro que nós achamos que é 'demasiado simpática' não pode ser directora de uma rádio pública ('do governo', diz a criatura). não pode exercer a sua profissão em liberdade. tem de ser proscrita.
a história do anúncio é só um pretexto -- o crime de eduarda maio foi não ter escrito o livro como devia ser. pede-se, nada mais nada menos, que o seu saneamento.
tenham vergonha -- se ainda vos sobrar alguma.