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Morte e miséria nas Filipinas

Embora se debata com uma inexplicável míngua de vocações, a Igreja católica é toda-poderosa nas Filipinas, país no qual são seguidas à risca as emanações vaticânicas em especial no que à sexualidade diz respeito, pelo menos a nível das disposições legais. Assim, o divórcio não é permitido, excepto para a reduzida comunidade muçulmana na qual se aplica a… Sharia, são censurados abertamente todos os programas de televisão que mostrem modos de vida diferentes do preconizado pela Igreja, os direitos da mulher são uma aberração do «feminismo radical» e, claro, falar em saúde reprodutiva das mulheres é uma blasfémia

 

Todos os métodos contraceptivos «artificiais», preservativo incluído, são assim um anátema neste tão católico país. Aliás, para não haver quaisquer dúvidas, o ano passado a Igreja Católina filipina emitiu um comunicado oficial informando que o Vaticano não permite que usem preservativos duas pessoas casadas em que uma delas está infectada com o vírus da SIDA .

 

O aborto em particular não é permitido em nenhuma circunstância, nem sequer para salvar a vida da gestante, e existem brigadas especiais, a Special Operations Task Force e a Women and Children's Protection Desk, que velam pelo cumprimento da lei.  Não obstante, a ONU deu conta há dias de um relatório arrepiante que indica que se realizam por ano, em condições sub-humanas,  mais de meio milhão de abortos, que resultam na hospitalização de cerca de 90 000 mil mulheres, na sua maioria muito maltratadas pelos católicos médicos, e matam cerca de 1000 filipinas.

 

Há uns dias, aproveitando a época em que os arroubos de fé levam muitos filipinos aos extremos um pouco incompreensíveis que o vídeo exibe, Cerge Remonde, o secretário de estado para a Imprensa, explicou ao Manila Times que a moral e a ética são as razões por que Gloria Arroyo e o seu gabinete apoiam a posição da ICAR em relação à sexualidade e ao seu (des)controle e partilham a execração clerical dos pecaminosos métodos contraceptivos.  Remonde afirmou ao jornal que a adopção dos ensinamentos da Igreja sobre a dignidade da vida humana por Arroyo era assim uma questão de elevados princípios, não apenas mais um cortejar àqueles que se devotaram a mantê-la no poder, nomeadamente pregando contra o seu impeachment por fraude eleitoral.

 

Mais concretamente, Remonde informa que:

«Mrs. Arroyo has repeatedly said is standing by her policy of natural birth control, the same position taken by Catholic bishops lobbying against the pending Reproductive Health bill that its opponents have seen to ultimately promote abortion and immoral sexual habits.The President personally believes that it is morally upright to adopt the pro-Life stance and its emphasis on curtailing sexuality and continence

 

Remonde deixa no ar a hipótese de a presidente vetar a «imoral» lei proposta pelos seus oponentes políticos no caso de o clã Arroyo não conseguir convencer os pares da necessidade de obediência à santa Igreja. Remonde refere ainda o facto de os mesmos oponentes políticos, quiçá em conluio com todas as organizações de direitos humanos internacionais, ONU inclusive, acusarem injustamente a presidente de incentivar os esquadrões de morte que actuam impunemente no país, ou pelo menos nada fazer de facto para lhes pôr termo.

 

A palavra injusta de facto é apropriada uma vez que  Arroyo, que se desdobra em declarações de que segue estritamente os ensinamentos da Santa Sé,  leu certamente a encíclica Evangelium Vitae que afirma que «a vida na sua condição terrena não é um valor absoluto», em particular o ponto 57 que resume a posição da ICAR sobre a inviolabilidade da vida humana: apenas é condenável «a eliminação directa de um ser humano inocente». Ora os esquadrões de morte apenas eliminaram (e eliminam) «culpados» de malfeitorias sortidas pelo que Arroyo deve estar de consciência tranquila...

 

Não é assim coincidência que amanhã o ex-general Jovito Palparan tome posse no Congresso,  uns escassos dois meses depois de Arroyo ter dado a saber que planeava recompensá-lo com um cargo no Dangerous Drug Board. Palparan foi identificado por uma comissão de investigação constituida para o efeito em 2006 como o principal suspeito de liderança de um desses esquadrões, especializado no assassínio de jornalistas e activistas de esquerda.

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