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podemos ser lisboetas?


Num artigo publicado na segunda-feira no Público, Pedro Magalhães lembra como Londres e Estocolmo reduziram a circulação automóvel nos seus centros, taxando-a, e propõe que os lisboetas coloquem como condição para votar num candidato nas autárquicas a proposta de fazer o mesmo ou algo que resulte no mesmo sentido em Lisboa. Diz: “Candidato que não proponha uma maneira séria e radical de impedir a entrada de carros na nossa cidade não merece um único dos nossos votos”.

O apelo de Pedro Magalhães cala decerto fundo em muitos lisboetas, cansados de passeios atulhados de carros – tão cansados que se criou um movimento na net, “Quero andar a pé. Posso?”, com blogue (http://passeiolivre.blogspot.com/) e distribuição de autocolantes para colocar em carros estacionados no passeio  -- e de ruas entupidas. E deixa de cabeça perdida os outros todos, nomeadamente os que acham que ter um automóvel lhes confere um direito inalienável sobre o espaço público e lhes garante uma espécie de livre acesso a todo o lado, tipo passe garantido e, claro, grátis.

A atitude imperial dos detentores de automóvel, que reagem com selvajaria a qualquer acção que encarem como limitadora dos seus “direitos naturais”, foi notória na recente limitação do tráfego na zona da Baixa, devido às obras na Praça do Comércio, e promete ser ainda mais retumbante quando se efectivar a prometida limitação permanente do trânsito nessa zona. O Automóvel Club de Portugal até já prometeu acções em tribunal para combater a restrição que pretende impedir o trânsito de atravessamento na zona da Baixa e melhorar a respectiva qualidade ambiental.

Mas interessante mesmo vai ser a forma como este debate se vai reflectir na campanha das autárquicas. Não só porque é um debate fundamental mas sobretudo porque pela primeira vez houve um executivo com coragem para propor medidas efectivas e tomá-las, sabendo que a meses das eleições isso pode capitalizado contra ele – já houve quem, como Miguel Sousa Tavares, considerasse a atitude de António Costa suicidária ou coisa que o valha – , e a forma como os opositores vão lidar com isso dirá muito (ou tudo) sobre a sua seriedade. É que não houve nos últimos anos um único candidato à Câmara de Lisboa que não anunciasse no seu programa a intenção de restringir a circulação automóvel em Lisboa, regular o estacionamento e as cargas e descargas e dar primazia aos transportes públicos e peões. Lembre-se que Pedro Santana Lopes, em 2001, chegou a aventar a aplicação da fórmula londrina, que então se discutia (está em vigor desde 2003) e que, como Pedro Magalhães explica no texto citado, implica o pagamento de uma “taxa de congestão” de nove euros para quem queira, vindo de fora, circular ou estacionar no centro. Isentos estão transportes públicos, veículos usados por deficientes ou com baixa emissão de dióxido de carbono, motos e bicicletas, para além de ambulâncias e similares. Os residentes beneficiam e um desconto de 90%. Mas o executivo de Santana Lopes não só não chegou a concretizar a proposta como nada fez para diminuir a quantidade de automóveis em circulação na cidade. E o número dois de Santana, Carmona Rodrigues, que ganhou as eleições em 2005, manteve o mesmo alheamento em relação ao problema, limitando-se a pôr em prática velhos planos de circulação restrita, como o do Bairro Alto.

Para Pedro Magalhães, a inoperância de sucessivos executivos camarários em relação ao problema – porque de problema obviamente se trata – do excesso de automóveis a circular na cidade tem uma explicação: os políticos que ocupam a cadeira de edil na capital fazem-no com os olhos noutros cargos e “têm medo de hostilizar o eleitorado dos concelhos vizinhos”. Magalhães tem razão: Lisboa merece quem se bata por ela e seja capaz de arriscar isso a que se chama “uma carreira política” para fazer o que é preciso. Se Miguel Sousa Tavares tiver razão, é isso mesmo que António Costa está a fazer, ao limitar a circulação na Baixa: a ser antes de tudo e acima de tudo aquilo que foi eleito para ser. Assim continue: terá o meu voto.
 

(publicado na coluna 'sermões impossíveis' da notícias magazine de 26 de abril)

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