Isto anda(va) a "encanitar-me" os nervos
O Paulo Sargento tem todo o direito às fezadas que entender e a "estar convicto da tese de morte acidental com ocultação de cadáver" no caso Maddie, mas sendo psicólogo perde o direito a escrever barbaridades destas "Não mais foi vista a fazer jogging ou a passear os gémeos. Esta questão vê incrementada a sua pertinência se atentarmos ao facto de Kate estar, aparentemente, mais magra, facto que é visível na sua deslocação aos Estados Unidos, para participar no Show de Oprah. Assim sendo, perguntemo-nos: numa pessoa que faz desporto com grande regularidade, que problemas podem surgir quando essa prática pára, repentinamente? Uma resposta óbvia: essa pessoa engordará e apresentará sintomatologia ansiosa, devida à desregulação das endorfinas (hormonas que o nosso organismo processa, em especial com a prática desportiva frequente, que constituem uma espécie de anti-depressivo natural). Ora, o que nos foi dado a observar? Aparentemente, algo de paradoxal. Kate não só não engorda como, aliás, emagrece...".
O Paulo aprendeu psicopatologia e psicofisiologia, caramba, que é feito dos conhecimentos? A relação do aumento de peso com a paragem do exercício é sustentado em que dados? Acaso Kate era, até há poucos meses, uma atleta de alta competição? Isto para já não falar na leviandade com que as desgraçadinhas das endorfinas são implicadas na etiopatogenia do muito provável, e ainda mais compreensível, quadro ango-depressivo desta mulher. Se algum dia deprimir, Paulo, não se trate, não, ponha-se a fazer jogging - se a inibição psicomotora, tão frequente nos quadros depressivos, lho permitir - e logo verá. Bem pode esperar sentado que passe, garanto-lhe.
Como disse Beck "não deprime quem quer, só deprime quem pode", para deprimir é necessário ter um aparelho emocional abalável. Onde se posiciona a perda de um filho nas escalas de acontecimentos de vida? Gosto de ver o Síndrome de Transição de Vick* aplicado a Kate - de psicopata por não chorar, a deprimida por emagrecer após deixar de ser vista a fazer jogging é o que se quiser. Está bem, portanto.
*mudança frequente de diagnóstico psiquiátrico num curto espaço de tempo que acontece frequentemente em doentes internados por razões não psiquiátricas em resultado de múltiplas avaliações, por diferentes observadores, sem que seja levada em conta a evolução diacrónica e a contextualização da observação na anamnese do sujeito. Causa frequente de insultos entre pares, como se percebe.
Nota: A referência bibliográfica escolhida para "ilustrar" as escalas de acontecimentos de vida tem, de propósito, mais de 30 anos.