Sempre a aprender
No artigo de capa da última edição da Economist ficamos a saber que a revista —os artigos não são assinados e reflectem a sua linha editorial—defende que se deve aprender com esta crise, e defende também que, no curto prazo, a intervenção pública é necessária para garantir a sobrevivência do próprio capitalismo. E o que é que a Economist realmente 'aprende' com tudo isto? Nada. A Economist limita-se a dizer que esta é uma decisão puramente pragmática e não ideológica. Ou seja, a Economist reconhece que o Estado tem de intervir mas que isso não tem grande significado, pois não afecta de forma significativa as suas crenças no Free Market Economics e a defesa do Small Government. Se fosse um editorial do Avante a falar do comunismo, diziamos que era cegueira ideológica; mas como se trata da 'melhor revista do mundo', achamos normal que insista em afirmar platitudes deste calibre. E eu que pensava que esta crise nos tinha ensinado a desconfiar desse tipo de generalidades irresponsáveis. Parece que me enganei. Uma das coisas extraordinárias deste artigo é que ele se dedica sobretudo a falar daquilo que os poderes públicos não devem fazer. A tentação suprema (o pecado?) é achar que esta crise nos ensina o que quer que seja sobre o funcionamento dos próprios mercados. Para terminar, uma pérola: sadly another lesson of history is that in politics economic reason doesn't always prevail—especially when the best case scenario for most countries is short term ressession...Capitalism is at bay, but those who believe in it must fight for it. For all its flaws, it is the best economic system man has invented yet". É bonito, sim senhor. Mas não diz mais do que algo parecido com isto: a verdade absoluta foi temporariamente posta em causa mas tudo aquilo que normalmente defendemos mantém-se intacto. Quem pensa assim pode estar a fazer muitas coisas, mas não está certamente a pensar.

