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jugular

Colherada a vol d'oiseau

É uma impossibilidade prática e uma blasfémia estilística, eu sei. Mas é útil. Meter levemente o bedelho sem conhecer a fundo o assunto. Escrever "posta de pescada bem cagada" seria deselegante e ligeiramente desagradável. Por isso, fica assim.

Venho largar uma breve sentença sobre o muito badalado tema do caso-da-professora-de-Espinho-que-falou-de-sexo-na-aula. Não, não vou repetir coisas óbvias e elementares (já explanadas, por exemplo, pela Ana, aqui). Não vou extrapolar nem fazer projecções de "efeitos", "consequências" ou algo de semelhante. Venho só constatar uma coisa que me parece elementar e que tenho visto muito pouco comentado. Elementar mas, confesso, chocante. Não sei se é de alguma hipersensibilidade minha. Ei-la: praticamente tudo ou quase que se disse acerca do caso gira em torno do teor sexualmente ofensivo e inadequado, para não dizer grosseiro, da aula. Fala-se em "sexo em termos inapropriados" (também aqui) refere-se uma "conversa sobre orgias sexuais", reportam-se "afirmações de cariz sexual", noticia-se a docente "que terá abordado temas sexuais, de modo impróprio".

Sexo, sexo, sexo. O que faz manchete, cabeçalhos, discussões, paleios na AR, é o sexo. Aparentemente, e desculpem-me se estou a parecer leviano ou irresponsável, teme-se que os professores corrompam os nossos jovens, que docentes perversas roubem a pureza dos nossos adolescentes. Nada disto faz muito sentido. A conversa da professora é um cházinho de tias ao pé das conversas habituais da maior parte dos putos. Ou será que já nos esquecemos todos de quando éramos adolescentes? Muito bem, é uma professora. E não eram exactamente adolescentes, eram pré. E que uma "conversa" nestes moldes é, simplesmente, estúpida. Estamos conversados.

O que me fez verdadeiramente impressão e que me chocou não foi isso, o sexo. O que me escandalizou (e que pouco vi comentado, e nunca numa manchete) foi a absoluta prepotência do discurso, o tom autoritário e humilhante, a arrogância provinciana, o desprezo ameaçador pelos alunos. Falar dos anos de estudo, dizer que tem um mestrado, que a mãe de uma aluna teria que tratá-la por "senhora doutora"? Promover o silêncio e o medo, ameaçar com respresálias? Humilhar alunas com tretas mal enjorcadas sobre "perder a virgindade"? Isto, sim, é que é chocante. Pequenos tiranetes na sala de aula, que usam a autoridade para imporem submissão e medo. Isto, sim, é que me assustou. Mas, é claro, a luz da ribalta não foi para aqui. Foi para o sexo. E, digo, fez todo este escândalo exactamente porque a conversa era desse teor. Porque, se não fosse, ninguém quereria saber. Provavelmente, nem teria sido noticiada. Quase de certeza, nem teria sido gravada.

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