Mistérios
Consta que Alasdair MacIntyre é um filósofo muito do agrado de alguma direita. Se não me engano, até João Pereira Coutinho já se fartou de o elogiar. E agora temos a Carla Hilário Quevedo, que entrou em delírio quando percebeu que o António Figueira tinha referido o nome do ilustre filósofo. Mas este entusiasmo da diireita é — no mínimo — misterioso.
A direita é conhecida por ridicularizar os "pós-modernos" por estes desvalorizarem coisas como a verdade; por reduzirem tudo a interpretações, discursos, narrativas; por gostarem de autores obscuros e palavrosos, sem qualquer conteúdo que não uma certa pseudo-erudição mistificadora. Mas, a ser alguma coisa, MacIntyre é um católico que, à falta de melhor, podemos designar de pós-moderno. Ele pode escrever muito sobre Aristóteles e São Tomás de Aquino, mas todo o seu pensamento depende da inexistência (da perda) de algo que esses dois pensaodres tomavam como um dado — a natureza. Alias, o que MacIntyre escreve num dos seus livros mais famosos — After Virtue — acompanha a crítica da modernidade e da razão instrumental de autores como Adorno, Horkheimer ou Marcuse. Até o acusam de relativismo, imaginem. A diferença, simplificando (muito) , é que MacIntyre complementa esses autores com a tradição (essencialmente narrativa) Católica. Mas o Catolicismo de MacIntyre é tudo menos ortodoxo, uma vez que rejeita categoricamente a (possibilidade) da fundamentação tradicional das verdades do catolicismo: o catolicismo de MacIntyre é exclusivamente narrativo e anti-essencialista (um termo que os pós-modernos adoram), de práticas discursivas que não podem ser justificadas (que são aquilo a partir do qual se pode justificar o que quer que seja). Os pós-modernos podem retirar conclusões diferentes, mas não estão assim tão distantes do ilustre filósofo da universidade católica de Notre Dame.