bê-á-bá do pim-pam-pum
Em mais um excelente exercício de perspicácia, sagacidade e clarividência, a que nos tem, aliás, habituado, a maravilha fatal da nossa idade (e da blogosfera) chamada de Paulo Pinto Mascarenhas fez ontem, após uma investigação profunda e de seriedade incontestável, uma denúncia corajosa e firme, um libelo vibrante e lúcido, contra certas imposições de agenda que impedem a discussão sobre a crise e os problemas sociais que Portugal vive neste momento. Mais precisamente, acusa certos seminários e certos movimentos de desviarem a atenção do que é essencial, numa manobra que só pode estar submetida, servir, interessar e suportar uma única força. Venho aqui, publicamente, prestar o meu integral apoio a tal posição e contribuir, ainda que modestamente, para essa denúncia.
O seminário em questão e o recente Movimento Pela Igualdade têm apenas como objectivo desviar as atenções da opinião pública, segundo a agenda do partido do governo. Nada mais do que isso. Aposto que o S. Jorge estará a esta hora vazio ou, na melhor das hipóteses, com uns quantos militantes e simpatizantes do PS arregimentados por caciques locais (quiçá atraídos por um qualquer carneiro com batatas à moda oitocentista) e engajados em autocarros de câmaras PS para virem a Lisboa bater palmas e votar moções de apoio ao governo disfarçadas de propostas igualitárias. Quem quiser confirmar, que vá lá. Já agora, alguém que fotografe e documente e divulgue e denuncie a agenda que todos eles trarão certamente debaixo do braço, uns de forma mais disfarçada, outros de modo mais ostensivo, provocatório e anti-democrático.
É mais uma manobra. E fico admirado como é que nunca, mas nunca, ninguém deu por ela. Foi preciso um blogger particularmente inteligente e arguto para o dizer claramente. Dizer que a colocação do tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo é extemporânea e inconveniente, porque apenas serve o governo e as suas estratégias e afastam a opinião pública da discussão sobre a crise. Aliás, é evidente que se trata de uma falsa questão. Sendo o casamento uma instituição em crise e em recuo, ninguém me convence que há real interesse, por parte da comunidade gay, em aderir à mesma. Tudo não passa de uma hipocrisia, de mais um ponto na famigerada agenda.
É um flare, um fogacho, um circo mediático (um drag queen show, melhor dizendo) para desviar atenções. Porque o que importa mesmo, e exclusivamente, como acusa de forma veemente o blogger, é proceder a algo que não se tem feito até agora, nunca, em lado nenhum em Portugal: discutir a crise, debater os problemas sociais. Se não houvesse censura, se existisse liberdade de imprensa e de expressão, talvez assim se conseguisse que essa discussão tivesse lugar. Quem vê televisão e lê jornais sabe perfeitamente que é coisa sobre a qual impera um silêncio absoluto, a crise. Ninguém fala dela, ninguém se atreve, porque todos os media têm demasiado terror ou estão demasiado comprometidos com a tal agenda.
Acrescento aqui uns dados que, certamente por modéstia (que não é uma das suas menores qualidades), Paulo Pinto Mascarenhas não menciona. Umas informações que completam um pouco o panorama. E que são as seguintes: não tenho qualquer dúvida de que há outros eventos que são colocados nos cabeçalhos dos jornais e nas aberturas dos serviços informativos com o mesmo propósito. Ninguém me convence de que o Primeiro-Ministro não manobrou, pressionou, e chantageou a União Europeia para que as eleições para o Parlamento Europeu se realizassem agora; ninguém me tira da ideia de que não eram precisas eleições autárquicas e legislativas este ano; ninguém me consegue demover de que os testes nucleares da Coreia do Norte foram agendados para esta precisa ocasião em sintonia e acordo prévio com o PS; que os preços do petróleo subiram bruscamente nos últimos dias só depois de a OPEP ter recebido um telefonema de um boy socialista; e, finalmente, que o recente recrudescimento dos combates na zona ocidental do Afeganistão tenha tudo a ver com as conveniências de José Sócrates. E estou seguro de que, se nos próximos dias houver nova atenção mediática sobre a menina Alexandra, será porque a mãe dela é militante do PS e recebe periodicamente ordens do Rato para espancar a filha em frente das câmaras. E que o dia em que Margarida Meneses for ao ginecologista, com cobertura televisiva, será escolhido não por ela, mas pela distrital do PS. E parece-me claro como água que muito pouco do que se discutiu, discute e discutirá na blogosfera está isento da acção da mãozinha papuda socialista.
Por fim, digo que o ilustre jornalista do i tem toda a razão quando fala da necessidade de discussão da crise e dos problemas sociais que preocupam as pessoas. Porque o que é preciso mesmo é isso, é ter a coragem de discutir. Lutar contra a crise, agir, trabalhar, são conceitos distantes, demasiado distantes. Logo que estiver discutida, se pensará nisso. E depois de se pensar nisso, e depois, enfim, de lá se fazer alguma coisinha, e logo que a crise esteja sanada e ultrapassada, então é que se poderá eventualmente pensar em agendar coisas como a homossexualidade na PSP ou casamento entre pessoas do mesmo sexo. Até lá, adia-se, adie-se. Até quando? Cito aqui Pimentel dos Santos, aquele Governador Geral de Moçambique que, em 1973, disse categoricamente e com perspicaz sentido premonitório, quando interrogado acerca do tempo que os portugueses ficariam por lá: "forever!".