Falsa abertura
Netanyahu pode ter puxado o lustre para parecer respeitável, mas a substância da sua posição não se alterou. E isso não é bom para o processo de paz. Se Netanyahu não estiver disposto a ceder na questão dos colonatos, insistindo na tese peregrina do crescimento natural, podemos dizer que este governo Israelita é pior para o processo de paz do que o Hamas. A razão é simples: parte do apoio ao Hamas (não todo) resulta de uma causa justa — a auto-determinação dos palestinianos —, enquanto que a agenda de Bibi se limita a satisfazer pretensões coloniais ilegítimas. Se considerarmos que a questão territorial é uma questão contral para a resolução do conflito, é Israel quem deve (e pode) ceder primeiro. É certo que há extremistas palestinianos que se recusam a reconhecer Israel, faça este o que fizer. Mas nem toda a violência palestiniana é deste tipo. É preciso apoiar os moderados e combater os radicais. Certo. O problema é que, no contexto actual, é muito difícil separar as águas no campo palestiniano. Parte da violência palestiniana é, digamos, sistémica e inevitável; faz parte da lógica (trágica) deste conflito. Enquanto Israel se recusar a parar com o crescimento dos colonatos e a devolver parte da terra roubada aos Palestinianos, e, sobretudo, se insistir que só negoceia quando a violência palestiniana cessar, torna-se muito difícil, senão mesmo impossível, avançar no processo de paz. Israel está a fazer exigências que são impossíveis de satisfazer. Mais: a insistência no crescimento dos colonatos nem chega a ser uma posição negocial; é um contínuo acto de agressão. É dizer explicitamente o seguinte: enquanto negociamos eu continuo a agredir-te, a humilhar-te e a roubar-te terras; mas tu tens que agir como se nada disto estivesse a acontecer. Já sabemos que os Palestinianos rejeitam esta "oferta" de Israel. Eu, se tivesse no lugar deles, fazia o mesmo.