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Resposta ao Miguel do Insurgente

Miguel,

 

Os méritos ou deméritos do investimento em energias renováveis não podem ser julgados pelos postos de trabalho que desapareceram no período, porque a verdadeira questão é saber se esses empregos teriam desaparecido, mesmo sem a aposta na tal "bolha verde". E mesmo que tal tenha acontecido, o desemprego friccional deve ser visto como um dos males inevitáveis da modernização de uma economia, e pensar a renovação das economias, um argumento central na defesa de um estado empreendedor. Quando desapareceu a indústria das carruagens, ninguém se lembrou de criticar o empreendedor que inventou o carro.

No entanto, por detrás da banalizada expressão bolha, está um sentido pejorativo que tenta subestimar a aposta em energias limpas. Discutir a importância desta tendência é, pois , muito relevante. 

Em tempos também se associou a palavra bolha à internet, muito por investimentos excessivos por parte de privados (sim, eles também cometem excessos e não só na crise financeira) e por uma desvalorização do risco associado a negócios suportados nesta tecnologia. No entanto, a internet é hoje uma aposta central em (quase) todas as propostas de investimento e em (quase) todas as políticas públicas. Quer isto dizer que todas as novidades têm o seu estágio de maturidade. E, por estarmos hoje a corrigir os incentivos dados à construção de capacidade em energias renováveis, não significa que estamos a desqualificar a aposta, apenas que a escala do mercado e o estágio de desenvolvimento dessa tecnologia já não exigem prémios de risco tão elevados.  

A defesa de um estado empreendedor

A ideia de um estado empreendedor não se esgota na alocação de recursos públicos para grandes obras públicas. Por detrás de um projecto como o novo aeroporto ou como o TGV está uma visão para o futuro de Portugal. E é o futuro que interessa discutir.

A forma como vemos um país e a sua capacidade produtiva não acaba nas limitações e constrangimentos da nossa realidade. É possível, diria mesmo obrigatório, percebermos o país a médio e longo prazo. Como poderemos preparar Portugal? O que é que o Estado pode fazer pelas próximas gerações?

Esta crise  obriga o Estado a um papel de maior intervenção, enquanto a poupança privada sobe, exigem-se maiores consumos (investimento) públicos, e é razoável que o Estado co-participe em investimentos que, pela sua dimensão, só sejam possíveis com o envolvimento do Estado. No entanto, o futuro não é só o TGV, nem a plataforma logística de Sines, nem o novo aeroporto, nem a auto-estrada para Bragança. É possível começar a preparar Portugal com medidas que não envolvem muitos recursos, apenas compromisso, visão e liderança.

Espanha foi um dos países pioneiros na energia eólica. Muitos acharam louca a aposta nas energias renováveis, especialmente vento, como parte fundamental do sistema de geração de energia. No entanto, com esta medida, e em boa parte por se ter antecipado a uma tendência que parece hoje inevitável, criou condições para empresas Espanholas apostarem no desenvolvimento desta tecnologia. Hoje, uma das maiores produtoras de motores de energia eólica é Espanhola. Os EUA, que chegaram tarde a esta festa, dependem, em parte, da capacidade de uma empresa Espanhola para concretizarem a sua aposta em energias renováveis. Nos EUA o tema foi discutido durante anos, com os lobbies das diferentes tecnologias e a oposição dos Republicanos a conseguirem protelar a decisão. Quem ganhou foram os Espanhois. Quem fez a aposta, o Estado Espanhol.

Tudo isto para falar de carros eléctricos. Muitos dizem que esta tecnologia é experimental e que implicará consumos excessivos de energia ao qual hoje não podemos responder. Não sendo um entendido, apenas um curioso, vejo neste tipo de argumentos a capacidade para um país como Portugal se antecipar e, com essa antecipação, assegurar uma participação na construção e desenvolvimento dessa alternativa. A visão de um país com consumos mínimos de combustíveis fósseis, teria um impacto significativo na grande maioria dos indicadores de contabilidade nacional com que o grupo dos 28 tanto se assusta, e a vantagem de propor uma alternativa de crescimento à economia Portuguesa.   

 

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