O Bloco de Esquerda submeteu hoje um Projecto de Lei que “Altera o Código do Registo Civil, permitindo a pessoas transexuais a mudança do registo do sexo no assento de nascimento”. É em praticamente tudo semelhante ao projecto que temos vindo a trabalhar no PS e que certamente será apresentado em breve. Ainda bem. Vamos a isso, que este não é um assunto “fracturante”, mas sim de elementar justiça. (E bem mais relevante do que umas tonterias sobre feriados)
1. Detesto teorias da conspiração, mas não resisto. Pois, então, connect the dots: 1) foi lançada uma guerra contra o euro; 2) o ataque fez-se pelos elos mais fracos - Grécia, Portugal, Espanha; 3) estes países são governados por partidos socialistas; 4) os grandes países e economias da Europa são governados pela Direita; 5) a União Europeia não sabe reagir de forma firme e unida à “guerra”; 6) em vez disso tudo indica que aproveitará a situação para destruir o estado social como se de uma fatalidade se tratasse; 7) das reacções egocêntricas alemãs ao reforço dos nacionalismos de Direita em vários países, o clima é anti-europeu; 8)nem mais democraticidade no processo de construção europeu, nem mais integração ou reforço do governo económico estão à vista.
2. O mundo mudou mesmo. Mas aqui na paróquia quase ninguém discute a política e a situação em termos europeus. Nem as oposições, nem o governo, nem a comunicação social, nem os opinadores. Quando todo o discurso político deveria agora ser primeiro europeu e só depois nacional. Assim, nem as análises, nem as queixas, nem as propostas de solução têm uma base realista - acabam por ser comunicações de estados de alma, o que geralmente conduz à frustração; alimentando o círculo infernal acima descrito. Pelo caminho, há sempre os bons alunos a levantarem-se com o dedo no ar, ansiosos por serem mais papistas que o papa: Passos Coelho e a proposta de prolongamento dos contratos a prazo. Os tempos estão de Direita. Watch out.
«O debate sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo foi marcado, em Portugal, por uma originalidade: o espectro da adopção e a ressalva em relação à mesma na lei. É certo que ambos assentam na distinção entre conjugalidade e parentalidade: a primeira é uma questão de escolhas entre duas pessoas adultas; a segunda envolve menores. Mas também é verdade que muita desinformação (na melhor das hipóteses) e muita homofobia (na pior) estão na base de algumas manifestações desta originalidade. É preciso esclarecer - de modo a fechar o fosso que separa os níveis de aceitação do casamento dos níveis de aceitação da adopção por casais do mesmo sexo.
Desde logo: neste momento uma lésbica ou um gay podem adoptar sozinhos. Em casal – seja em união de facto, seja casados/as – já não podem fazê-lo. Também o acesso à procriação medicamente assistida está barrado às mulheres sem companheiro ou marido e não dispomos entre nós de um banco de gâmetas para a inseminação artificial independente de problemas de fertilidade. Em segundo lugar, o debate sobre adopção colocou as questões da parentalidade de lésbicas e gays num plano restrito, porque a parentalidade não se esgota na adopção. Não só a procriação medicamente assistida pode ser uma via para a parentalidade, como o exercício desta por lésbicas e gays já existe, havendo situações humanas que necessitam de resolução urgente – as das crianças privadas do pleno usufruto do seu direito às suas mães e aos seus pais.
Só uma correcção: sessão legislativa e não legislatura. A sessão acaba em 22 de Julho, a legislatura daqui a 3 anos. Submetidas antes do verão ou logo a seguir, com certeza as iniciativas legislativas poderão ser discutidas nesta legislatura, a partir do começo da próxima sessão legislativa a 15 de setembro.
(E, sim, publicada em DR a alteração ao código civil que permite o acesso ao casamento civil a casais de pessoas do mesmo sexo, as prioridades de quem se preocupa com a melhoria da vida de mais gente e o mais rápido possível continuam a incluir,mais que nunca, os vários aspectos da parentalidade - com especial enfoque para a garantia dos direitos das crianças que jáexistem e que têm dois pais ou duas mães mas sem que um/a deles/as seja reconhecid@ -, uma lei de identidade de género, e uma alteração da lei da PMA. Para além, naturalmente, de todo o trabalho constante e persistente contra a homofobia e a transfobia, em todas as instâncias da sociedade. São lutas de tod@s, cada um/a travando-as à sua maneira, com os respectivos constrangimentos e as respectivas potencialidades).
Os direitos nunca são para amanhã, são sempre para ontem :-)
Não gosto de ser um mau perdedor. E muito menos um mau ganhador. Mas, caramba, hoje não resisto à tentação do pecado e sinto-me mauzinho, naughty, naughty: quase que desejo que Cavaco ganhe as eleições para que haja tempo de, um dia, ter de receber em Belém um dignitário ou uma dignitária acompanhad@ d@ cônjuge do mesmo sexo. Imagino a conversa de circunstância de “primeira-dama” com @ referid@ cônjuge. De, sei lá, um deputado…PS: I couldn’t say it better.
Conheço o Tin e simpatizo com ele. Mas não concordo com algumas das coisas que diz nesta entrevista. Mas não é grave, claro. O que nunca aceitei muito bem foi a ideia do IDAHO numa data diferente do 28 de Junho. Coisas simbólicas minhas, prontoS. Mesmo assim, amanhã é o dito e esperemos esta conferência. E muitas outras celebrações. No Parlamento não consegui “meter” uma declaração política na agenda da semana passada - não sei se por dificuldades da mesma, se por algum efeito inconsciente papista (meu não, certmente, and I shall say no more…). Talvez para a semana se consiga apresentar um voto de saudação. Veremos.
Posto assim, parece que esta é a principal e mais urgente medida de combate à crise. E não se percebe em que consiste, pairando a sensação de injustiça social. E esta não é uma perplexidade perante o tratamento noticioso.É uma perplexidade perante a comunicação oficial destas coisas num momento tão grave quanto este. Espera-se esclarecimento. Rápido.
O artigo de José Vítor Malheiros (excepto numa coisa: as tomadas de posição que são pedidas foram feitas; só que não vendem jornais - e ja está estabelecida em Portugal a “verdade” negativa sobre @s deputad@s) [ler o resto aqui]
Enfastiado à espera de não sei o quê, peguei num jornal que nunca leio, Correio da Manhã, que languescia em cima da mesa do café, e dei com isto: não é o jornalismo a cumprir a sua função de vigilância do poder. Isto é vigilantismo. E imputação de tudo e mais alguma coisa E alimentação de um enorme preconceito.
Onde estava? Tinha 13 anos e estava em casa dos meus pais. O meu pai ainda era vivo. A rua Sampaio e Pina, onde morávamos, foi fechada, por ser ali o Rádio Clube. Não pudemos sair de casa durante uns dois dias (três? não lembro já) e ficámos grudad@s à “telefonia” e à pouca televisão que havia. Lembro-me de sentir que qualquer coisa de promissor se passava. Porque via essa promessa na cara do meu pai, na cara da minha mãe. Se há relação entre uma coisa e outra, não sei (mas que as estórias pessoais e a História colectiva se ligam, lá desse “marxismo” não abdico), mas o que é certo é que a promessa se cumpriu: cresci livre e ainda me sinto livre. Hoje de manhã tenho a sessão solene no Parlamento; à tarde deixo a fatiota em casa e vou para a avenida. Para a avenida livre.