Repetindo o que já escrevi aqui: a energia nuclear além dos riscos de acidente e de atentado, da falta de transparência desta indústria, do impacte ambiental e de saúde pública ao nível do tratamento dos resíduos e da mineração do urânio, da questão latente do desmantelamento da central, do enorme risco financeiro associado aos projetos “too big too fail”, da reduzida criação de emprego e da ínfima integração nacional, da resistência da opinião pública à construção de uma central, demoraria na melhor das hipóteses uma década até estar operacional, mas tudo isto é redundante porque existe excesso de capacidade instalada no parque electroprodutor nacional.
Os loucos que investiram $260 biliões em energias renováveis em 2011 provavelmente não tiveram o privilégio de partilhar a erudição desinteressada de empresários e gestores da craveira de Patrick Monteiro de Barros e Miral Amaral. Estes ilustres defensores do nuclear voltam à carga mal farejam a fragilidade política que permite bons negócios privados e públicas ruínas. A coberto da troika querem agora liquidar o cluster nacional de energias renováveis, que ao contrário da quimera nuclear, potencia o sistema científico-tecnológico nacional, gera emprego e riqueza locais, e potencia exportações de energia e de bens e serviços associados.
A questão que se impõe é a seguinte: será que Patrick Monteiro de Barros, Mira Amaral e Pedro Sampaio Nunes têm memória curta ou motivos fortes para defenderem com tanta insistência uma tecnologia que perde terreno em toda a linha e nas várias geografias para as energias renováveis.
Uma pedagógica visita a Windscale-Sellafield, a Three Mille Island, a Chernobyl e a Fukushima talvez ajude a reavivar a memória sobre os efeitos de quando as coisas não correm como o previsto. Esta não é uma mera questão energética ou económica, é acima de tudo uma escolha ética e civilizacional.
“four hundred times more radioactive material was released by the Chernobyl disaster than had been by the atomic bombing of Hiroshima.”
In http://en.wikipedia.org/wiki/Chernobyl_disaster
A Agência Internacional de Energia estima que as energias renováveis deverão assegurar ¾ da procura incremental de eletricidade (e em conjunto com o gás dois terços da procura incremental de energia) até 2035. Ou seja, no pico da maior crise económica dos últimos 100 anos, a esmagadora maioria dos países mantiveram e deverão reforçar a aposta nas energias renováveis, enquanto muitos países desenvolvidos deverão abandonar a energia nuclear.
A Alemanha anunciou há alguns meses que até 2022 vai encerrar todas as suas centrais nucleares, que foram responsáveis por um quarto da eletricidade produzida no País em 2010 e em 2011. New York Times - Guardian - BBC - Público - Diário de Notícias - Económico - i
A Alemanha é a 4ª maior economia do mundo e a maior potência económica e industrial da Europa. Ao contrário de Portugal, a Alemanha tem empresas que desenvolvem tecnologia nuclear, trabalhadores que dependem dela e recursos renováveis de qualidade inferior ao Sul da Europa. Tomar esta decisão na Alemanha é portanto muito mais difícil do que em Portugal, onde o investimento nas energias renováveis é uma escolha inteligente e natural, quer se utilize um critério ético, económico, ambiental ou social.
Em Setembro de 2011 a Siemens anunciou a retirada do nuclear para se concentrar nas energias renováveis. Nas palavras do seu CEO: "The chapter for us is closed."
A opinião de Dean Baker no Guardian e um post mais antigo de José Sousa no blogue Futuro Comprometido sobre o risco do colapso iminente do sistema económico e financeiro global, eclipsar da nossa consciência colectiva a gravíssima questão das alterações climáticas. A natural redução da percepção pública sobre a gravidade das alterações climáticas em nada reduz a sua real gravidade, nem a urgência de os decisores públicos agirem de forma concertada e consequente.
O facto das alterações climáticas estarem praticamente arredadas do espaço mediático e das preocupações quotidianas declaradas, deve-se sobretudo à crescente degradação das condições de vida na Europa, com a população cada vez mais esmagada entre a ausência de esperança e o fervor fanático de alguns dirigentes europeus que advogam uma austeridade quasi-punitiva de cariz mais religioso do que económico.
A persistente mediocridade da resposta Europeia à crise e às forças especulativas que dela se alimentam são péssimo presságio para o futuro do Continente. A resposta (conjunta?) ao iminente default da Grécia ditará o futuro do Euro e da Europa.
Foi divulgado hoje um estudo da consultora Rolland Berger para a APREN: Associação Portuguesa de Energias Renováveis, que questiona a desinformada percepção de que as renováveis são a besta negra da nossa factura energética.
Estudos há muitos e para todos os gostos, e devemos analisar os pressupostos e as metodologias para retirar as nossas conclusões. No entanto, alguns desilustres anónimos da nossa praça, que julgam os outros à sua medida, vieram logo a terreiro verter suspeição e ódio sobre um estudo que favorece a aposta - de Governos anteriores - nas energias renováveis. Esperemos é que na ânsia de se diferenciar politicamente, o PSD não adopte uma política de terra queimada numa das áreas onde Portugal conseguiu criar, de facto, um cluster industrial de sucesso (e.g. ENEOP).
Parece que o estudo não inclui na análise macro-económica, o diferencial entre as fontes de energia renovável e as alternativas fósseis ao nível da criação de emprego, contribuição para o PIB ou contributo para a balança comercial, que são claramente favoráveis às energias renováveis.
"I have a message to those who attacked us. A message from the whole of Norway. You won’t destroy us. You won't destroy our democracy. We are a small but proud nation. No one will bomb us to silence. No one can scare us from being Norway," Prime Minister Jens Stoltenberg said.