Caso se tenham esquecido, a luta é política
Contra a inevitabilidade da austeridade, a principal tarefa do PS e de Costa tem que ser demonstrar que, face ao cenário de crise financeira e às condições limitadoras que ela impõe às opções nacionais, é possível planear e executar políticas públicas diferentes das que o Governo preconizou e prosseguiu durante este mandato. Sobretudo é possível desenvolver políticas públicas de esquerda: melhor Estado, mais eficiente, com melhores serviços públicos, mas também mais investimento público onde ele conta, como estímulo à actividade económica privada, como forma de conseguir não apenas riqueza mas retornos sociais.
Isto é possível. E o primeiro passo para o demonstrar já foi dado com a Agenda para a Década, mas o passo essencial, de compromisso e escrutínio, será dado com a apresentação do Programa Eleitoral, no próximo dia 6 de Junho. Espera-se que à esquerda surjam também contributos semelhantes.
Mas os passos não bastam. É preciso um discurso que anuncie a caminhada, que alerte, que evoque. E esse discurso tem que ser dirigido a demolir as bandeiras monocórdicas e estafadas da direita: "não havia alternativa", "não há dinheiro", "tinha que ser", "a culpa é vossa", "o socialismo é fácil com o dinheiro dos outros".
Por esta altura os portugueses já perceberam que a social democracia laranja, a democracia cristã ou seja lá que ideologia inspira a coligação governamental, também é feita à custa do dinheiro dos outros. O nosso, o dos contribuintes, dos utilizadores de serviços públicos, o de consumidores de todo o tipo de produto e serviço. Por isso a questão não é um Governo viver do dinheiro dos contribuintes, mas como o utiliza. Este Governo utilizou-o para fazer regredir o país décadas, sempre com a desculpa de que o estava a salvar dos governos anteriores.
O discurso da direita governamental é uma farsa. E as duas maneiras de o provar devem ser a voz política de Costa: uma postura forte na Europa, de alteração de políticas económicas e financeiras face à crise - ao contrário do colaboracionismo deste Governo; e uma postura inovadora no país, demonstrando que com o dinheiro que temos se pode fazer bem diferente, bem melhor. Desde logo, recolocando as Qualificações no centro das políticas públicas - de modo a combater o maior flagelo geracional pelo qual o país está a passar. E associando uma Administração Pública moderna - onde este Governo sobretudo destruiu - ao empreendedorismo privado através de mecanismos de Investimento Económico com Retorno Social. Disso são exemplo vários iniciativas de parceria e intervenção sociais já em utilização por diversos países. O resto será feito pelos portugueses.