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dar a volta ao tacho

Na sua crónica semanal no Eximpresso - para quem não sabe, é o Expresso impresso - o inefável Henrique Raposo, quiçá se por falta de inspiração ou de assunto, repega num assunto que dá sempre para mexer. É como aquelas embalagens que temos no fundo do congelador e a que recorremos e enfiamos microondas quando somos apanhados desprevenidos: o aborto. Vai não volta, é preciso falar do aborto. Dar a volta ao tacho, senão pega-se, isto é, abanar uns espantalhos e uns fantasmas, senão as pessoas assumem que o quadro legal que existe em Portugal, conseguido com muito esforço e um referendo histórico, é um assunto que entrou na normalidade, é algo de banal. Que coisa? Que deixou de ser crime. Que nenhuma mulher será jamais condenada, exposta, humilhada, estigmatizada, por ter abortado. E que se acabaram os abortos-de-vão-de-escada. Isto segundo regras e limites, regulamentados de forma clara e transparente. As estatísticas demonstram o sucesso da despenalização, apesar das gritarias e distorções de Isildas Pegados e seus correligionários.

Henrique Raposo é um deles. Solidário com a "caminhada" ocorrida há dias. E lá repete a cantilena: que o aborto «não é um "direito", não é uma "conquista", não é um "avanço" para colocar ao lado da questão gay» (lá tinha que vir esta a par, vá lá saber-se porquê). Nisto concordamos. O aborto não é. Falta algo: a sua despenalização, sim, é. Sempre no habitual registo de não falar do que é (a despenalização) mas no que não é (o aborto isto e aquilo), diz que a questão (resta saber qual) será um dia reaberta, «porque não é aceitável que o aborto seja usado como contracetivo». Estará a falar da "pílula do dia seguinte"? Não, porque «é isso que acontece com centenas de portuguesas», mulheres que abortam «dezenas de vezes num curto espaço de tempo». Ao chegar aqui, confesso que se me baralharam as ideias, claras e distintas, que tenho acerca do que é e do que não é, do que defendo e do que rejeito. E também se me esbateu a fronteira entre moral, vida social, política e casos clínicos, não só porque tenho dificuldade em conceber como pode uma mulher abortar "dezenas de vezes num curto espaço de tempo", como penso que se tratará, certamente, de casos do foro clínico, não de obstetrícia, mas de psiquiatria. E, por fim, e mais importante, que estes casos não legitimam que a "questão" seja "reaberta". Não importa. Raposo escreveu, as pessoas leem, o espantalho agita-se. Ah espera. Afinal, não, o Raposo afirma que «não estou a dizer que o aborto tem de ser proibido» (Marcelo-style, presumo). Então está a dizer o quê? Presumo que apenas a dar a volta ao tacho, senão pega-se.

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