dia de Ramos
Estas declarações são, do meu ponto de vista, muito agravadas pelo facto de Rui Ramos ser historiador. Um qualquer Camilo Lourenço pode dizer dislates destes, que ache que andamos a gastar dinheiro a financiar investigação e ciência que não faz vender sapatos ou que não faz variar uma décima dos ratings da Moody's. Mas alguém que se chama de historiador, não. Esse, deveria ver a floresta em vez da árvore (ou do galho, como o Pires de Lima, ou a nervura da folha, como o referido Camilo Lourenço e outras luminárias semelhantes), mais longe, mais em perspetiva, mais no tempo longo. Mas penso, sobretudo, que há aqui uma dimensão que está a escapar aos que comentam, boquiabertos como eu, a crescente irritação com que fala, o cada vez mais nítido tom de desprezo com que se refere a ciência e investigação. Alguns têm relembrado os benefícios e os financiamentos que Rui Ramos obteve ou obtém da FCT, e apontam a contradição e/ou a hipocrisia. Pois aqui é que está o busílis: não há hipocrisia nenhuma. Há, apenas, um significado social, profundamente elitista, diria mesmo aristocrático, que estas palavras revelam: há a boa investigação e a má; a boa é a dele e a dos seus pares, o escol académico, essa merece ser apoiada e generosamente financiada. Agora aqueles ranhosos, barbudos e desengravatados que se manifestaram ontem em Lisboa? Essa gentalha, vinda não se sabe de onde (do povo, claro), sem referências, sem pedigree nem estirpe académica, que passou ao lado dos circuitos do controlo académico pelos quais tradicionalmente se subia, com os seus projetos, os seus curricula pessoais e o seu mérito próprio, esses não-se-sabe-quem-são que em vez de publicar em revistas internacionais deviam era ter ficado pelo 12º ano e trabalhar como caixas no Continente? Devem estar a brincar.