é a regra. como a atitude geral dos colegas presentes e da corporação e sindicatos face à evidência demonstra.
(e como outros vídeos da noite de domingo -- viram aquele polícia que no marquês se aproxima a correr de um homem de camisola do benfica que caminha descontraidamente e, pelas costas, lhe desfere um pontapé que o desequilibra e de seguida uma cacetada? --, para os quais não há uma palavra da direcção da PSP, da IGAI, seja de quem for com responsabilidade de tutela, a anunciar inquéritos ou averiguações, ilustram).
perante a brutalidade sem justificação e a mentira oficializada no auto do caso de guimarães, ambas públicas e sem negação possível, a única preocupação da psp -- e da tutela -- é limitar danos, ocultando-se atrás de procedimentos administrativos e tentando que o tempo traga o esquecimento e permita a impunidade (como sempre, aliás). o simples facto de perante o que sucedeu instaurar só um procedimento disciplinar -- e os outros agentes que colaboraram na brutalização e/ou assistiram impávidos não cometeram também faltas disciplinares/crimes? sério? -- demonstra a intenção de mais uma vez fazer crer que os problemas de desrespeito pela lei e missão da polícia são de 'elementos' e não a cultura da instituição.
e no mesmo sentido, para não variar, vai o discurso geral dos comentadores e dos políticos.
chegou-se mesmo ao ridículo de incensar um polícia que agarra a criança aterrorizada como se de um acto de heroísmo se tratasse, e não da coisa mais normal do mundo: é um agente das forças de segurança, fez o que seria de esperar de qualquer pessoa -- repito, qualquer pessoa -- e está tudo a falar daquilo de uma forma que só pode querer dizer que da polícia, ou daquele corpo da polícia, não se espera que aja como pessoa normal, como pessoa simplesmente.
não, meus queridos. não. deixem-se de meter a cabeça na areia, deixem-se disso que nos trouxe onde estamos, que é ao facto de hoje, 2015, a polícia portuguesa ter, continuar a ter, um grave problema de brutalidade e impunidade. nunca perdeu os tiques autoritários e militaristas do pré-25/4. nunca se democratizou.
41 anos disto, 41. e ainda há -- aliás é o que mais há, e mesmo neste momento de momentânea indignação nacional (viva o futebol por uma vez), quem defenda que exigir que os polícias cumpram a lei e a constituição é 'diminuir-lhes a autoridade'.
enquanto assim for, todos -- todos, todos, mesmo todos, como descobriram se calhar no domingo os que acham que se for na cova da moura ou com ciganos, brasileiros, putas, manifestantes, anarquistas e quejandos está bem e só se perdem as que caem no chão, estamos sujeitos à pura arbitrariedade no uso de uma força que investimos e armámos para nos defender.