Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

jugular

Frase do Dia

Não tenho a certeza. Do dia, claro. Provavelmente, será do ano. Da década. Autor? Um personagem, nosso compatriota, fadado para altos vôos internacionais. Má sorte ter nascido político. Fosse trolha, sapateiro, caixa de supermercado, jardineiro, reformado compulsivo à maioridade, abanador de moscas, caçador de gambozinos ou outra atividade produtiva, teria poupado tal nódoa ao palmarés lusitano. Dá pelo nome de Burrão Duroso. É duroso porque foi MRPP enquanto jovem, quando se insurgia contra o "ensino burguês". Desistiu, mas um antigo camarada é hoje ministro e prosseguiu a sua tarefa, como todos sabemos. Curiosamente, no campo político que ambos ferozmente combatiam nesses tempos. A sua durosidade (vulgo "ruindade de erva daninha") persistente levou-o, entre oportunidades e golpes de sorte, flic flacs à retaguarda e viscosidade a gosto, invectivas contra o "país de tanga" e metamorfoses numa certa espécie piscícola de alto mar, ao trono da Europa. Já o outro nome não necessita de esclarecimento, temos uma década de União Europeia a caminho do colapso para o comprovar.

A sua burrosidade durosa  vem hoje demonstrada na entrevista à Visão. É um monumento de euismo. Medalha no 10 de junho próximo, candidatura ao Prémio Nobel, é o mínimo os mínimos que o personagem merece. Não o reclama porque é modesto, QED. E qual é a tal frase? Ei-la: "nós, nos países do Sul, (...) devemos igualmente fazer uma autocrítica. Fomos, sobretudo, maltratados por quem nos pôs nessa situação, que foram nos nossos governos. Ou como chegou a dívida a tal ponto?". Portanto, apesar de a crise ter sido causada pela desregulação dos mercados e pelas bolhas imobiliárias, pela especulação financeira e pela ganância dos poderosos, apesar do reconhecimento generalizado - infelizmente tardio - da absoluta estupidez que foi a aplicação austeritária em termos claramente punitivos (não esqueçamos a inoculação da ideia de que nós, os gregos, os espanhóis e outras bestas preguiçosas merecemos o que sofremos porque vivemos acima das nossas possibilidades, gastámos o dinheiro alheio em putas e vinho verde e, portanto, tínhamos que pagar o preço para aprendermos), da imposição do garrote orçamental à custa do sofrimento, da vida e das esperanças de muitos milhões, temos que fazer (nós, diz sem pudor este slimmy worm), uma autocrítica e reconhecer que foram os nossos governos os culpados. Deduzo que "nossos governos" signifique "Sócrates", e nunca ele próprio, apesar de ter sido subsecretário de Estado, depois ministro e finalmente primeiro-ministro. E que, quando se anunciou a bomba, não tenha feito discursos tranquilizadores, repetidos tantas vezes por cá por certos comentadores, de que a crise era apenas um ajustamento dos mercados e que nunca chegaria à "economia real" e que, quando ela finalmente estalou, não tenha recomendado aos países do Sul um aumento da dívida para amortecer o choque e absorver o impacto social, recomendação rapidamente varrida para debaixo do tapete quando a Merkel sacou do seu Diktat, fez buuu e ele amochou.

No final, diz que não sabe o que vai fazer agora. A reforma modesta (como se espera de tão grande estadista) a que tem direito não lhe dá descanso nem grandes opções. Uma delas é a área académica, como refere. Parece-me adequado, tanto mais porque me esqueci, no início deste post, do reconhecimento mais óbvio e inevitável: um doutoramento honoris causa, um number one no topo do pódio, secundado por outros dois grandes vultos benfeitores já agraciados pela academia portuguesa, a saber, Ricardo Salgado e Zainal Bava.

7 comentários

Comentar post

Arquivo

Isabel Moreira

Ana Vidigal
Irene Pimentel
Miguel Vale de Almeida

Rogério da Costa Pereira

Rui Herbon


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anónimo

    The times they are a-changin’. Como sempre …

  • Anónimo

    De facto vivemos tempos curiosos, onde supostament...

  • Anónimo

    De acordo, muito bem escrito.

  • Manuel Dias

    Temos de perguntar porque as autocracias estão ...

  • Anónimo

    aaaaaaaaaaaaAcho que para o bem ou para o mal o po...

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

blogs

media