Hoje e amanhã, sempre!
Quem como eu nasceu em África pode ter passado muito tempo sem perceber o que foi, como se fez e porque se fez o 25 de Abril. consciente ou inconscientemente, mais ou menos amargamente, a maioria das famílias de portugueses das colónias acabou por viver a consciência da Revolução como símbolo do princípio do fim – um símbolo de perda e não de conquista. naquele meio da década de 1970, muitos dos milhares de portugueses que chegaram a Portugal vindos de África estavam a aterrar sem nada num país pequeno e escuro ao qual tinham já poucas ou mesmo nenhumas ligações. muitos, provavelmente a maioria, não percebiam sequer a política nacional – não tinham vivido a ditadura ou tinham-na esquecido e a convulsão social do PREC, em vez de um caminho rumo à luz, provavelmente não diferia muito, a seus olhos, de uma continuação do estado de alerta da guerra que tinham deixado para trás. de resto, por aqueles dias tinham mais o que fazer do que pensar em política: para eles, era o momento do tudo ou nada da sobrevivência – a luta pela vida era omnipresente e omnipotente. para nós, os filhos, foi um vazio que as escolas também não serviram para preencher quando nomes como o de Salgueiro Maia não constavam dos livros ou chegavam sequer a ser mencionados. Acho que só a partir dos 20 anos comecei a perceber o 25 de Abril. fiz por perceber. e percebi. e não vejo que haja desculpa para que alguém não perceba. o 25 de Abril é todos os dias – é todos os dias que as suas conquistas devem ser exercidas e defendidas, contra tudo e contra todos. e sair à rua hoje e amanhã para celebrar o direito a essa constante luta que é a vida em democracia é um dever, uma responsabilidade de todos os que acreditam na liberdade.