Na AR e fora dela
Falemos agora da vivência interna dos alunos. As alunas e alunos do CM relacionam-se entre si e com a restante comunidade educativa dentro da especificidade do seu enquadramento e formação de matriz militar, a qual não deixa de ser uma extensão da formação cívica ministrada nas outras escolas, em que transmitem os mesmos valores e princípios para a cidadania através de regras e procedimentos associados à vida militar. Esta formação de matriz militar, o internato, o volume de atividades escolares e complemento curricular, os estudos obrigatórios e os inúmeros eventos, militares e não militares, de representação do colégio em atividades exteriores são sinónimo de maior exigência de trabalho, menos tempo livre, mais deveres mas nunca menos direitos de serem crianças e jovens com as brincadeiras, as alegrias, as tristezas, os entendimentos e desentendimentos, códigos e tabus, o seu comportamento tem de ser visto neste enquadramento e não no das exigências que são feitas a adultos.
Quanto ao subdiretor do CM, o tenente coronel António Grilo é um oficial de exceção, com uma excelente capacidade de liderança, a par de inegáveis princípios e valores de conduta profissional. Considero ter sido um dos pilares para que a transformação interna para o ensino misto no CM tivesse êxito em consequência da reforma efetuada. Não nos esqueçamos que muitas dúvidas eram colocadas no âmbito da eventual discriminação de género relativa â admissão de alunas. Pecar por omissão ou deixar as coisas seguirem o seu caminho não faz, de todo, o jeito deste oficial e a reserva que considero sempre possível e justa nas suas declarações a uma jornalista decorre não só das suas qualidades pessoais e dos seus valores e princípios de conduta profissional, mas também das condições em que foi efetuada a entrevista, das questões de semântica, bem como de algum artificio e criatividade jornalística nas perguntas e nas citações. interpretadas posteriormente ao sabor de variadas conveniências e apreciações, as quais vão muito além da simples discussão da alegada discriminação por orientação sexual no CM e muito a jeito de juizos que inferem processos de intenção sobre o futuro desta instituição. Nas suas declarações este oficial referiu-se tão só aos afetos que não são permitidos no regulamento interno, os quais não são exclusivos de alunos homossexuais.
Transcrição de parte da audição desta manhã ao Major Cóias Ferreira
- A homossexualidade é um tabu também? para vocês?... silêncio
- Hum, é uma maneira de mantermos, hum... como é lógico a sexualidade é aberta na sociedade e a homossexualidade é aceite legalmente. Poderemos dizer que é uma maneira de salvaguarda da sã [sic] relacionamento entre eles no âmbito do internato. Eles não se cobrem para nada, não se escondem para nada, não têm armários fechados, é sempre tudo aberto para poderem viver como irmãos que são. E na salvaguarda desse relacionamento é bom que não haja afetos.
- Mas esta tríade, digamos assim, é passada para eles, roubo drogas e...
- É deles, não é passada para eles, é deles
- É absorvida e defendida...
- É deles! É deles,é deles, temos conhecimento delas sim, sempre que ocorre qualquer situação dessas não é considerado denúncia e imediatamente as sabemos. Imediatamente, eles próprios se encarregam disso..
- De vos transmitir isso...
- Eles próprios...
- O que é que vocês fazem nesse momento?
- Hum?
- Falam com os encarregados de educação?
- Falamos com os encarregados de educação, como é lógico. Há situações que, situações de furto e droga é transferência de escola imediata. Situações de afetos, falamos com os encarregados de educação e procuramos - e temos conseguido - que os encarregados de educação percebam, porque não podemos fazer transferência de escola...
- Não é motivo..
- Não é motivo para isso mas que os encarregados de educação percebam que o seu filho acabou de perder espaço de vivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares, porque é o que se verifica. são excluídos
- São excluídos? pelos outros? já aconteceram muitas situações dessas?
- Não, quando acontecem... aconteceram muits situações? hum...lembro-me de uma
- E o que é que aconteceu exatamente?
- Nada de... Nada de... Nada de transcendente, ou seja, uma determinada orientação de um aluno que não...
- Mas ele falou sobre isso? Fez alguma coisa? Tentou acarinhar um aluno?
- Sim, tentou, e a partir daí, como é lógico, ele continuou e de facto foi isso que se comprovou, ou seja, os pais ainda quiseram que ele se mantivesse mas perdeu o espaço, perdeu o espaço porque foi completamente excluído e perdeu espaço de convívio...
- Quem é que o denunciou?
- ... o que num regime de externato pode ser. pode ser, han, governável ou pode ser gerível, num ambiente de internato, 24h por dia, é extremamente pesado para o equilíbrio de uma pessoa
Transcrição não editada do excerto da conversa com a Catarina Rodrigues do Observador que deu origem à polémica