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Nadia Kaabi-Linke I Preso por Fios | CAM/ Fundação Calouste Gulbenkian

 (Veja aqui o video da montagem)

 

 

Nascida em 1978 em Tunis (Tunísia), a obra de Nadia Kaabi-Linke faz-nos refletir sobre como a maior violência está precisamente naquilo que não é nem filmado nem fotografado, que não é abertura de telejornais nem faz capas de imprensa ou ocupa ecrãs de computador. Faz-nos pensar nos mecanismos invisíveis de controlo da sociedade contemporânea, desde as câmaras que nos vigiam nas cidades até aos telemóveis: somos observados e escutados sem sabermos quem nos observa e escuta.

 

Em No (2012) a artista parte da sua vivência pessoal de ser uma cidadã com nacionalidade tunisina a residir em Berlim e que, com a revolução e agitação no seu país natal, passa a ser escrutinada nas fronteiras dos países europeus de um modo inquisitorial, para simplesmente obter um visto para o Reino Unido, país onde tinha sido convidada a ir dar uma palestra.

 

 Curadoria: Isabel Carlos
13 de fevereiro a 18 de maio 2014 

Em No, a artista cria, através do plano simbólico, imagens para o que não tem imagens. Desloca o processo de interrogação policial do serviço de estrangeiros e fronteiras para uma situação de liturgia religiosa: uma igreja anglicana cheia de tunisinos a dizerem a palavra “não” numa litania mecânica e doce em resposta às palavras que saem de uma boca sem rosto que profere o formulário do pedido de vistos.

 

Tunisina, filha de pai tunisino e mãe ucraniana e a viver em Berlim, onde constituiu família, Nadia Kaabi-Linke não está a tratar problemas ou temas que resultaram da pesquisa e da investigação – métodos muito comuns na prática contemporânea –, mas antes, parte da sua vivência pessoal, de uma realidade sentida e percecionada na primeira pessoa.

 

Mesmo quando, como em Tunisian Americans e Smooth Criminal, ambos datados de 2012, ou ainda no mais recente Sniper (2014), a artista recorre a contextos históricos passados e a conflitos que não viveu diretamente na pele, o lugar em que se coloca e coloca a sua obra é sempre o da sua própria experiência: um lugar entre culturas, entre línguas, entre países, entre poderes.

 

Penso que as palavras exílio ou emigração não servem para uma geração de criadores nómadas oriundos de lugares em que a criação contemporânea é mais difícil ou impossível, e que optam por viver e criar em lugares mais confortáveis e cúmplices para a produção de cultura contemporânea mas que, no entanto, nunca se esquecem de onde vieram – e isso é o mais importante: onde quer que vivam, não se esquecem de onde vieram.

 

Presos por fios no sentido duplo: presos ao lugar de onde vieram, em termos de memória, e história; e presos dentro do lugar em que agora vivem porque se tem que adequar a novos sistemas de vida e leis. São estrangeiros, sempre estrangeiros.

 

As obras de Kaabi-Linke, das esculturas ao vídeo, aliam uma sofisticação conceptual e pensante a uma sensorialidade plástica sedutora. Veja-se como a escultura Smooth Criminal é aparentemente frágil e preciosa como uma joia mas que, ficamos a saber depois - se nos quisermos informar, é claro -, foi feita por pescadores da região do Golfo para ser usada como uma armadilha para peixes.

 

Atraentes num primeiro olhar, estas obras instalam depois um lugar de reflexão sobre uma série de «incómodos» do mundo contemporâneo e da realidade atual: do fim das fronteiras dentro da União Europeia à campanha tunisina, do pós-colonialismo ao conflito do Médio Oriente, do holocausto à revolução na Tunísia, ficamos sempre com mais interrogações. E esperemos que também mais abertos e tolerantes, porque são obras que nos fazem pensar para além da espuma das imagens, da espuma das notícias, da espuma dos dias.

 

 

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