O outro não gostava de ser sequestrado e eu não gosto de demagogias, "chateia-me, pá"*
João Décio Ferreira desenvolveu um trabalho notável enquanto cirurgião plástico e é mais do que merecida a medalha com que foi agraciado pela Sociedade Alemã de Sexologia Clínica, que «atribui a distinção ao "trabalho de uma vida" do médico português devido à sua contribuição "quer a nível de investigação, quer a nível de ensino, para melhorar o conhecimento sexológico e tornar as vidas sexuais mais humanas"».
Já a história dos "seis euros à hora" irrita-me tanto hoje como em 2011, por isso repito o que escrevi na altura:
1. O cirurgião plástico João Décio Ferreira não saiu agora do SNS, saiu em 2009, quando se reformou.
2. Depois de reformado foi contratado pelo SNS através de uma empresa de prestação de serviços.
3. Em Junho de 2010 é aprovado em Conselho de Ministros o regime especial para a contratação de médicos reformados que prevê a possibilidade de contratação destes médicos pelo SNS por um período de três anos, ficando a receber a reforma por inteiro e um terço do ordenado ou o ordenado por inteiro e um terço de reforma - situação de excepção em relação aos restantes trabalhadores do estados (será preciso lembrar que os trabalhadores do estado não podem, desde Janeiro, acumular reformas e salários?), determinada não pelos lindos olhos dos médicos mas pelas necessidades do sistema.
4. Com as novas regras, se tivesse aceitado e partindo do princípio que Décio Ferreira optava pela primeira hipótese, receberia a reforma mais um terço do ordenado - caso se tenha reformado como assistente hospitalar, a trabalhar 35h/semanas receberia 2.858,18 euros:3=953euros/mês, cujos divididos pelas 140 horas mensais dariam os referidos 6.81 euros/h, que bem poderiam ter sido explicados (aliás acho bem curioso que até hoje ninguém tenha ficado escandalizado com os 20,43euros/h que um médico assistente hospitalar em exercício ganha no SNS e tantas vezes já tenha ouvido referência aos "fantásticos" ordenados dos médicos hospitalares, mas isto é só um aparte).
5. Décio Ferreira não aceitou a proposta, é um direito que lhe assiste, ponto. Está deste modo explicada a sua ida embora por não renovação contratual (a sua saída do SNS já tinha ficado explicada pela reforma e aconteceu, recordo, em 2009). Eu percebi isto sem ser preciso a Ministra explicar-me.