panqueca gente cria ceuta
Há uns tempos ouvi para aí umas bocarras coiso e tal que 600 anos Ceuta e glórias do passado e o camandro. Oh seus Ricardos Neves, vocês não sabem mesmo nada. Se fizessem como eu e passassem uns diazinhos em Marrocos a apanhar sol no papo, estariam certos - como eu estou - que muito se ganhou e nada se perdeu desde esses dias e que a parceria luso-castelhana em terras de mouros de pazes está para durar. Sabem, é que a gente quase nem percebe que está longe da nossa terra. Sabem a razão por que está o Algarve cheio de ingleses? Porque os portugueses mudaram-se todos para Marrocos; desconfio que para o sitio onde eu estou e, mais precisamente, para o complexo turístico onde me instalei. Se quisesse ser mesmo mas mesmo exato, arriscaria dizer: na piscina que frequento. Ah nem se chega a ter saudades do nosso bom Portugal: criançada em abundante produção decibélica, que os papás estimulam para a foto (forma arcaica de selfie, para quem não saiba), Benfica contra Sporting em "torre" e outros originalíssimos jogos nacionais, conversa animada com boa pronúncia do norte para toda a gente escutar e devidamente recheada de foda-ses e caralhadas que o que é português é para se ouvir. Mesmo que a piscina se chame Relax, para distingui-la da outra, da principal, a da "animação", onde os tugas se misturam com os outros e não podem, portanto, brilhar. E não vale a pena fugir para um local sossegado, porque eles vão atrás.
Depois, na hora das refeições, é ver a boa velha casa portuguesa com certeza pão e vinho sobre a mesa, temperada ao gosto local com arabescos turcos e pirâmides egípcias, ou seja, nas misturas - estilo tajine com piza e batata frita aos magotes - e no formato dos volumes da comida, respetivamente. Disse vinho? Pois disse, é o que não falta aqui à discrição, vinho tinto e branco e rosé e cerveja e cocktails, é vê-los em filas quase 24/7 a levar garrafas inteiras para a mesa e encher imperiais e mojitos em barda, é aproveitar minha gente que é à pala. E ao pequeno almoço, sempre sempre encher o prato com tudo o que há e enfardar o mais que se puder.
Protestar quando estão em causa coisas verdadeiramente importantes, caraças, como há três dias quando um indignado compatriota meu foi à receção dizer que estava há duas horas sem televisão. Por fim, não esquecer aquela tradição tão nossa, do "guardar o lugar" na fila ou no guarda sol, mesmo que depois não se meta lá mais os cotos durante o resto do dia. Nem dei por sair de Portugal.
E os indígenas? Ah esses, pois. Ficam para amanhã.