política a feijões ou afiar a faca
"É evidente que uma força de esquerda como o BE, que quer governar à esquerda e quer governar com políticas de esquerda, não pode olhar para o PS como um parceiro". Palavras de João Semedo, ontem, no encontro com o Livre. Fica a dúvida: o BE quererá mesmo "governar"? E como pensa fazê-lo, se exclui o PS como "parceiro" de tal eventualidade? Com os seus 4,6% obtidos nas Europeias, atrás do MPT? No rescaldo das eleições, Catarina Martins afirmou a necessidade de "agregar, juntar forças" e declarou que o BE "trilhará esse caminho de determinação, de convicção e de necessidade de juntar forças", uma vez que "a esquerda tem de ser essa capacidade para que haja verdadeiramente uma alternativa às políticas neoliberais e às políticas de destruição do nosso país". Não se percebe como, nem onde, nem com quem. Se nem com o Livre. Com o PCP? Com o MRPP? Com o Marinho Pinto? As mesmas declarações de 28 de maio exultam com "a derrota da direita". Alvíssaras. Curiosamente, ontem também ouvi o José Seguro atirar na cara do António Costa a histórica "derrota da direita". It is all very well. Mas a política não se faz de derrotas alheias, faz-se de vitórias próprias. E nem o BE nem o PS de Seguro se podem gabar de tal coisa. O PS, então, tem sido patético de ver, a evolução titubeante da intenção de voto ao longo destes três anos de chumbo, sobe uma décima hoje, cai duas amanhã. Tudo a culminar nos miseráveis 31,5% das Europeias quando, com um líder mais desempoeirado, já devia ter descolado muito acima disso, capitalizando o descontentamento do eleitorado e afirmando uma verdadeira alternativa política. Depois chegou Costa, o traidor. O tal que a maioria dos portugueses prefere para primeiro-ministro, muito acima de Seguro e de Passos Coelho. Pois bem. Minhas senhoras e meus senhores: ou a política é para levar a sério ou é a feijões; se é a sério, haja quem reconheça que para a "esquerda" chegar ao poder, precisa de votos. E do PS. E que este não consegue fazê-lo pela invocação de derrotas alheias. Portanto, se os simpatizantes e militantes do PS querem mudar de governo, afiem a faca no próximo dia 28. Caso contrário, quando o próximo governo Passos Coelho tomar posse, podem cantar em coro com o BE a ladainha de "agregar e juntar forças" e sonhar com amanhãs que cantam.