Portugal Desinfetado
Quando aquele prodígio de coerência, aquele modelo de reflexão política e campeão do antipopulismo chamado Marinho Pinto fundou um partido e candidatou-se, deste modo, a primeiro-ministro, eu rejubilei. Mas não era suficiente. Seria, provavelmente, apenas um sinal, mas ainda difuso e ténue, de que algo se estaria a passar. Subitamente, o meu belo facies iluminou-se há dois dias, quando aquele grande exemplo de honestidade e seriedade, correção e verticalidade, e também ele, curiosamente, avesso às luzes da ribalta e a discutir merdelim nos programas da manhã que dá pelo nome de Paulo Morais, apresentou a sua candidatura a Belém. Eis o Portugal do futuro e o futuro de Portugal finalmente a par, vislumbrando-se no horizonte invencível Duo Dinâmico de primeiro-ministro e presidente da república para gerir, varrer, limpar, esterilizar, estirpar, esfregar com criolina e botar bardas de pachos de álcool neste pobre país. Portugal Desinfetado. Mas - e esta é uma piscadela ao povo soberano que tanto gosta de cantar loas a estes exterminadores implacáveis -, três é a conta que Deus fez, não há dois sem três e quando faltam os três, hádes de cá vir outra vez (esta foi inspiração súbita, tomem nota para o cancioneiro, ok?). Dois é número imperfeito. Não é possível fazer a triangulação do grande GPS Nacional sem uma terceira coordenada. Oh Senhor, temos Pai e Filho, onde andará o Espírito Santo? Em boa verdade vos digo: não procureis mais, que acabou de me ser revelado. Não diretamente, mas por intermédio do Diário de Notícias. São tortuosos os caminhos da Pátria.
O senhor chama-se Paulo Pereira de Almeida e acabou de escrever todo um manifesto do Novo Portugal. Um Portugal onde não haja - como agora há - "um estranho lóbi" que defende os criminosos e coloca os seus direitos acima dos direitos dos cidadãos, nem estado de Direito que mais não faz do que proteger uns e outros, nem primado da Lei, presunção de inocência, direitos maricas à privacidade e tretas dessas. Acabaram-se cá as merdas coiso e tal, isto e aquilo, e assim e assado. Tudo devia ser corrido a pena de morte. Como toda a gente sabe e o autor demonstra, nos EUA, por cada criminoso condenado à morte e executado evitam-se cinco homicídios. Que maravilha, querem maior eficácia do que isto? Poupanças, como diria o primeiro-ministro atual? Ajustadas, como acrescentaria a ministra das finanças? E irrevogáveis, como replicaria o vice-primeiro-ministro? Vamos ver, vamos ver, finalizaria o ministro da economia.
A Trindade está completa. Arranjem já um forum para este senhor falar, se possível num canal generalista e no meio de um "ligue já" e com aqueles entrevistadores sagazes que nem gostam nada de puxar pela costela justiceira do público. Depois, apresentem-no ao futuro PR e ao próximo PM, e concedam-lhe o futuro lugar de presidente da AR ou assim. Ahh Provedor de Justiça, talvez. E votai, povo, votai. E Portugal, assim, finalmente... deixa ver que varreu-se-me... bom, finalmente. Não é bem o triuunfo do Portugal Alcatifado que bebe o vinho e canta o fado do Manuel João, é mais o do Portugal Desinfetado que, sei lá, coça o rabo e olha de lado.