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jugular

post só para pessoas do mesmo sexo e diferente: uns lêem, outros co-lêem, faz favor, e depois trocam

chegou ao meu conhecimento uma 'nota de abertura' da rádio renascença, que é, na linguagem da emissora da igreja católica portuguesa, uma nota editorial, da responsabilidade da direcção -- composta por graça franco, pedro leal, raquel abecasis -- ou mesmo, fui informada, do conselho de administração (parece que na rádio renascença os administradores também escrevem editoriais).

 

e diz a nota o seguinte, logo a abrir:

 

'Nos últimos dias, e para justificar a adopção de crianças por pessoas do mesmo sexo – a chamada co-adopção –, têm sido invocados casos particulares e excepcionais.'

 

portanto, para a rádio renascença, há pessoas 'do mesmo sexo'' (que elas próprias, portanto?) e pessoas de sexo diferente (diferente do delas próprias, portanto? deve ser giro e dar jeito, isso de a própria pessoa ter sexo diferente dela própria. há muita gente dessa na renascença? podemos ver fotos? que tal um calendário tipo o dos bombeiros de setúbal?).

 

e portanto para a rádio renascença as pessoas de sexo diferente adoptam crianças; as do mesmo sexo co-adoptam.

 

o estranho é que segundo a renascença as pessoas do mesmo sexo são casos particulares e excepcionais; dir-se-ia que é precisamente o contrário que se verifica, mas vai-se a ver e na igreja católica a maioria das pessoas são de sexo diferente delas próprias e daí o viés da perspectiva.

 

mas a estranheza não acaba aqui: segundo a renascença, toda esta conversa é sobre a lei e o referendo da co-adopção. ora, a última vez que verifiquei, a lei portuguesa permite a adopção (sem 'co-') a pessoas singulares e nada diz sobre serem do mesmo sexo ou de sexo diferente. como, de resto, já agora, nada diz nem pode dizer sobre a respectiva orientação sexual (se dissesse, isso seria inconstitucional, imagine-se, por atentar contra o princípio da igualdade e também contrário à convençãoo europeia dos direitos humanos, como o tribunal europeu dos direitos humanos já fez notar, ao condenar a frança por impedir uma lésbica de adoptar individualmente uma criança).

 

ou seja, a lei portuguesa permite, e há muito, que pessoas singulares, independentemente do sexo (mesmo ou diferente, segundo a terminologia tão peculiar da renascença), adoptem (de adopção plena) crianças. e a lei portuguesa, como os tribunais portuguesas, entrega crianças a casais do mesmo sexo, como de sexo diferente, para que as cuidem. suponho que tudo isto que toda a gente sabe (ou deve saber, porque é público e notório) será uma novidade para a direcção da renascença, que até passa por ser composta por jornalistas, mas, lá está, ninguém é perfeito e estou cá para ajudar.

 

daí que quando a nota de abertura diz 'O que mais importa é saber se, por princípio, uma criança deve ou não deve ser educada por um pai e por uma mãe' a pessoa minimamente informada fica mesmo baralhada. então não querem ver que a rádio renascença começa por falar de categorias de pessoas 'do mesmo sexo' e de 'sexo diferente' e de repente passa para 'um pai e uma mãe'? como é que isto aconteceu? e esse pai e essa mãe são do mesmo sexo ou de sexo diferente? por exemplo, uma mãe do mesmo sexo pode adoptar com um pai de sexo diferente? e a inversa, será possível? e se a mãe for do mesmo sexo e o pai também? tudo isto merece maior estudo, parece-me. até porque, diz a renascença, 'o papel de um pai só pode ser desempenhado por um homem; tal como a maternidade tem características que só uma mulher pode assumir e pôr em prática', sem esclarecer qual o sexo: se o mesmo, se diferente, e sem nos responder a esta questão premente: se a lei em portugal não proibe as famílias monoparentais e até permite adopção singular, isto virá a que propósito exactamente? querem fazer um referendo sobre famílias monoparentais, é isso? querem proibir a adopção singular? descosam-se, vá. 

 

mas nada: a nota abre e fecha sem nos tirar desta inquietação de saber o que raio a move. diz a conclusão: 'Não se trata de discriminar ninguém pelas respectivas inclinações sexuais; trata-se apenas de reconhecer e identificar a natureza e de a aceitar, como ela é e será. Por mais que num momento da história tudo se faça para a desmentir e contrariar.' ora a natureza, como é e será, isto tem o quê a ver com adopção, mesmo? adopção não será exactamente resolver o que a 'a natureza' não resolve, tipo, adoptar crianças órfãs ou que a família biológica rejeitou? é que ia jurar. como ia jurar -- aliás juro -- que a co-adopção não é, como escreve a direcção editorial, portanto jornalística, da rádio renascença, 'a adopção das pessoas do mesmo sexo'; é mesmo a adopção por parte de um membro de um casal constituído do filho (biológico ou adoptado) do outro membro do casal. a co-adopção pode acontecer num casal de pessoas de sexo diferente e num casal de pessoas do mesmo sexo. na maioria dos países da europa é assim: em portugal está interdita em casais do mesmo sexo, o que significa que nesses casais de dois pais e duas mães só um dos membros é responsável legalmente pela criança.

 

portanto, caras pessoas (do mesmo sexo ou diferente, é indiferente) que escreveram esta nota de abertura, não está em causa na lei da co-adopção 'se por princípio uma criança deve ser educada por um pai e uma mãe'; o que está em causa é gente cruel e preconceituosa e ignorante, como quem escreveu esta nota, querer impedir crianças que vivem com casais do mesmo sexo de gozarem de toda a segurança e protecção jurídica de que gozam as crianças que vivem com casais de sexo diferente, e mentir para fazer crer que se trata de outra coisa qualquer.

 

mentir já não é pecado, por essas bandas? ou acreditam tanto em deus e nos respectivos mandamentos como eu e a única coisa que vos move é meter o nariz na vida dos outros e fazê-los infelizes, como provavelmente vocês são?

4 comentários

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    Inês Meneses 21.01.2014

    Construtivismos? Tiago, que parte de "famílias que já existem" é que não percebeu na questão da coadopção? 
    Vou dizer-lhe um segredo: este referendo não vai acontecer porque é ilegal, inconstitucional, como várias pessoas do CDS e do próprio PSD já explicaram. A aprovação na AR foi uma fiteirice política inconsequente, com o único resultado de atrasar a solução que se pretende dar a estas situações. 
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    tiago 21.01.2014

    Existem milhares de famílias em que o filhos de um membro do casal vivem com madastras ou padastros.
    Nunca ninguém pensou ser necessário que as madrastas e padastros tivessem de adoptar os enteados para que as crianças estivessem seguras.
    E sabe porquê? Porque as crianças estão seguras com  a legislação existente. E sabe ainda porquê? Porque a adopção é uma medida extrema que faz desaparecer para sempre todos os laçoes legais entre a criança adoptada e a sua família natural.
    E ainda mais? Que devemos pensar quando um assento de nascimento começa a conter uma notória impossibilidade física (e aqui reside o construtivismo) : que uma criança é filho de duas pessoas do mesmo sexo.
    Talvez por isso, apenas meia-dúzia de países - e daqueles onde pensar e meditar são actividades lucrativas consagram essa possibilidade.
    Quanto ao processo legislativo: deveria ter sido rejeitado, desde logo. No entanto, sobre o referendo aconselho que leia as palavras sábias de Paulo Corte-Real.
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    f. 21.01.2014

    agora q já parei de rir, vou ter a caridade de lhe explicar umas coisas q convinha o tiago saber antes de s pôr a falar disto. 'nunca ninguém pensou q as crianças precisavam d ser co-adoptadas pelos padrastos e madrastas para estarem seguras'. ah foi, tiago? tem a certeza? por exemplo se eu tiver um filho adoptivo e me casar com alguém e essa pessoa funcionar como pai ou mãe para o meu filho e ele o reconhecer como tal, acha q não vou querer que o adopte, e q a criança ñ vai querer ser adoptada? o tiago quando pensa em padrastos e madrastas pensa em crianças que vivem com um membro de casal divorciado, e portanto que têm outro pai ou mãe e correspondentes laços familiares. mas não é que há crianças q não têm nada disso? e que crianças q ñ têm nada disso vivem com casais do mesmo sexo? eh pá, q maçada para a sua bela historieta, não é? lamento muito. vai ter de reunir com o seu grupinho e arranjar outro argumento porq esse é para o inexistente, até porq, como o tiago saberia se fizesse alguma ideia daquilo q esta´a tentar refutar, não são adoptáveis crianças q têm esses laços q refere com 'a sua família natural' (a sério, homem, ñ s envergonhe assim, estude).


    e vamos ao q realmente lhe importa: q o registo da criança diga q ela é filha de 2 pessoas do mm sexo. isso é q lh tira o sono, ñ é? porq com o facto de a criança viver com duas pessoas do mesmo sexo, casadas ou em união de facto, chamar-lhes papás ou mamãs, ser por eles cuidada e criada e educada, bom, quanto a isso o tiago por mais q gostasse sabe q ñ pode fazer nada. mas ai, que a lei reconheça q pode haver dois mães e duas mães, isso é q nem pensar. 'chamem-lh outra coisa', ñ é, tiago? é q isso da nomenclatura, quando já se perdeu todo o terreno, é mm a única coisa q vos resta, ñ é? q para garantir a nomenclatura se coloquem crianças em situação de perigo e desamparo, por amor d deus, q é q interessa?


    e chegamos ao 'meia dúzia de pasíes'. meia dúzia de países o quê, tiago? refere-se à meia dúzia de países europeus q não consagra a co-adopção, não? porque, vejamos, com adopção plena para casais do mesmo sexo e portanto, desde logo, com co-adopção em casais do mesmo sexo: holanda; noruega; suécia; frança; bélgica, espanha, reino unido; islândia. com co-adopção em casais do mesmo sexo: áustria; eslovénia; finlândia; alemanha, groenlândia. isto só na europa. conte lá os q ficam d fora, tá? agora no resto do mundo: com adopção plena: áfrica do su; canadá; argentina (a terra do papa, cucu); nova zelândia; brasil (esta doeu, hã?); uruguai; pelo menos 21 estados dos eua; a cida do méxico; quatro estados da austrália; a ilha de man, a ilha de jersey. só co-adopção em casais do mesmo sexo: dois estados dos eua e israel. 


    quando precisar de aprender mais alguma coisa sobre o que o aflige, tiago, diga. estou aqui para ajudar. beijinho. 
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