prolegómenos da misantropia
consideramos, e bem, que o maior mal é o que se faz de propósito e gratuitamente. porque, se formos minimamente sinceros, ou capazes de nos vermos, achar-nos-emos, todos, capazes de fazer mal. por reacção, por defesa, por distracção.
mas fazer mal por fazer, por nada, é outra coisa -- pensamos.
o problema é que muito raramente alguém achará que fez mal sem razão, ou sem provocação ou agressão prévia. é tudo uma questão de perspectiva: aquilo que consideramos razoável não é universal, longe disso. muito menos a capacidade de empatia.
no limite, cada um de nós é uma espécie. o único, primeiro e último exemplar, em extinção, sem nenhum outro ser no mundo que considere seu igual, e um único fito: olhar por si, sobreviver e prosperar até poder.
somos todos fair game uns dos outros. todos. e, nessa perspectiva, não há mal gratuito ou sem ser gratuito, há necessidades. ou negócios, como dizem os mafiosos: o mal nunca é por mal, é porque tem de ser.

