PS, Costa e os socráticos
António Vitorino já colocou correctamente a questão: é evidente que há um problema político, para além de criminal, quando um membro de um Governo é indiciado pelo crime de corrupção. Afinal, a ser verdade, trata-se de um dos piores crimes contra a República - o aproveitamento do trabalho e do esforço de todos os contribuintes em benefício de uma pessoa - e isso não pode deixar de se reflectir no juízo que fazemos do partido a que essa pessoa pertence. Porém, dito isto, fica quase tudo por dizer e é bom que tenhamos ideias claras. Não só para podermos viver bem com as nossas consciências, mas para podermos rechaçar os ataques políticos desmedidos e oportunistas.
A tentativa de colar o PS de Costa ao PS de Sócrates, para além da responsabilidade política que a normal institucionalização de um partido permite, é uma estratégia política rasteira e que não resiste a qualquer análise minimamente séria e honesta. Uma coisa é o PS de Costa ter que encontrar uma política que o defina, como, por exemplo Sócrates teve o seu Plano Tecnológico. Uma coisa é o PS de Costa ter que encontrar um discurso que responda ao pedido de resgate do PS de Sócrates como é a luta pela renegociação da dívida. Outra bem diferente é tentar transformar uma batalha ideológica entre o Governo e o PS num salganhada de desinformação e confusão política, destinada a enganar os eleitores, em que se começa com a crítica a Sócrates, se evoca o socratismo para apanhar nesta malha todas as pessoas - sejam sérias e competentes ou não - que trabalharam com Sócrates e acaba-se a tentar condenar Sócrates por antecipação, com isso pretendendo manchar - como no tempo dos crimes de sangue da vindictas privata - todo os que com ele trabalharam, contactaram ou privaram.
Sejamos claros: 1. Sócrates não foi ainda condenado por nada; 2. Indícios são isso mesmo: indícios; 3. Mas mesmo que Sócrates venha a ser condenado por alguma coisa será por crimes, não por más políticas; 4. A ideia do contágio político ao PS está por demonstrar e depende mais de Costa do que de Sócrates; 5. O juízo político, esse, os portugueses já o fizeram em 2005 e em 2009, quando Sócrates ganhou as eleições e em 2011, quando Sócrates perdeu as eleições. E fá-lo-ão de novo em 2015 quando Costa ganhar as eleições.
O juízo político - e apenas esse - é um juízo sobre o PS e quem o lidera, pois é quem o lidera o responsável pelo programa político. A circunstância de Costa, como líder, contar entre os seus apoiantes com aqueles que um Governo desesperado chama de socráticos demonstra uma realidade muito simples: quando um bom líder mobiliza, o melhor PS aparece. Aconteceu com Sócrates - independentemente do que venha a ser o resultado do inquérito que agora decorre - e acontecerá com Costa, com todas as diferenças que há entre um e outro e com todas as diferenças de liderança que existirão. Essa demarcação existe naturalmente e é tempo de Costa confrontar o discurso do contágio político por aquilo que é: uma mistificação de um Governo que não tem como combater Costa e a alternativa que ele representa às políticas desastrosas dos últimos três anos.
O melhor que Costa tem a fazer quanto ao socratismo, que PSD e CDS tanto abocanham, é rapidamente criar o costismo. Chamando os melhores e oferecendo uma alternativa política que exponha a táctica do papão do socratismo como aquilo que é: uma mistura de oportunismo e desespero político.