Quando o(a) assessor(a) vai à Wikipédia para fazer um comunicado... dá merda.
O Ministério da Justiça emitiu um comunicado sobre a notícia do Expresso "Ministra da Justiça manipulou dados sobre pedofilia" que, tecnicamente, é de nos atirarmos para o chão a rebolar para não chorarmos. A Shyznogud já falou do assunto hoje mas é irresistível não o fazer depois de se ler um conjunto de palavras - na teoria um comunicado - cuja fonte técnica só pode mesmo ter sido a Wikipédia.
O comunicado começa por falar em dados da Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais relativos a "crimes sexuais" para logo de seguida se "esquecer" e passar a falar - mal, muito mal - de uma perturbação parafílica - eu já expliquei tudinho à senhora, caramba.
Falam em "predadores" e apelam ao DSM - sistema classificativo das perturbações mentais da Associação Americana de Psiquiatria - quando, seguramente, não encontrarão as especificação do termo no referido sistema classificativo.
Informam-nos, depois, que tais sujeitos têm "comportamento habitual de tipo heterossexual com adultos, geralmente não sendo pedófilos". Adoro o "geralmente não sendo pedófilos". Se escreveram antes que tem "comportamento habitual (...) com adultos" não são, por definição, pedófilos - o "habitualmente" (comportamento ou não) no pedófilo versa a criança.
Depois, armados ao pingarelho, referem o DSM IV quando já saiu, em 2015, o DSM 5 e houve, pelo meio de ambos, o DSM IVR. Ou não falam em sistemas classificativos ou referem a última versão publicada. Mais, na versão actual do dito sistema classificativo a exclusividade do pré-púbere na sistematização diagnóstica da perturbação Pedoebófilica não existe (ver links mais acima para confirmar).
E continuam "Naturalmente que o tipo pedófilo exclusivo, terá um impulso sexual, do que se infere expectavelmente "intenso e recorrente"- o que é de perspectivar uma altíssima taxa de reincidência, como a Ministra da Justiça tem vindo a referir" . "Naturalmente" o tanas, meus senhores. Agora em capitais, O PEDÓFILO PODE NÃO SER, E HABITUALMENTE NÃO É, UM ABUSADOR DE MENORES, SUAS BESTAS. Que merda é essa de deitar mão do diagnóstico de pedofilia para justificar o injustificável?
Terminam com esta pérola "não se debruçam exclusivamente sobre os " pedófilos exclusivos", a que se tem referido a Ministra da Justiça". Portanto a ministra não tem andado a falar do crime de abuso de menores e o que quer é que os médicos quebrem sigilo profissional e publicitem a lista dos "pedófilos exclusivos" que seguem, é isso?
Ps: Sugiro, de novo, a leitura desta carta.
Adenda: Nota do Expresso em resposta ao "comunicado" da ministra.