"regressámos ao início da década de 90 na discussão sobre transferência de conhecimento"
Regressámos ao início da década de 90 no debate sobre transferência de conhecimento. Pires de Lima é empresário. E tal como muitos outros empresários portugueses da sua geração, considera que as universidades estão longe da economia real. E ainda que o investimento público na formação avançada de recursos humanos deveria estar mais orientado para a ligação entre as universidade e as empresas.
Esta visão condensada do ciclo de inovação é disparatada. As universidades são mais do que espaços de investigação aplicada; alimentam um capital de conhecimento multidisciplinar, muitas vezes sem materialização evidente. É um processo lento, mas estrutural de uma cadeia de produção de conhecimento que, em algumas áreas, acaba também por inovar processos, produtos ou serviços.
Já as empresas têm como objectivo ser competitivas. Pires de Lima parece reconhecer que a I&D é, para isso, um elemento essencial. Mas o problema da falta de competitividade das nossas empresas não é o investimento público em I&D estar (aparentemente) desfocado da economia real. O problema (ou um dos problemas) é as empresas portuguesas estarem desfocadas da ciência, da investigação, da inovação. É continuarem a ignorar o investimento privado em I&D. E é, também, terem nos dois últimos anos assistido impávidas à emigração de uma parte significativa da geração mais qualificada de sempre.
João Jesus Caetano, no Facebook a propósito das declarações de Pires de Lima