'salvo alguma perda de memória não referi fraude'
carlos costa, inquirido ontem no parlamento por joão galamba, garante (a partir dos nove minutos e 16 segundos) que na comunicação de domingo não referiu fraude a propósito do que o banco de portugal que tinha descoberto em setembro de 2013:
como eu ouvi com bastante atenção a comunicação de carlos costa e das coisas que mais me fez cair o queixo foi a parte em que o governador do banco de portugal, já no final, garantiu que desde setembro de 203 tinha identificado operações de financiamento fraudulento -- que associei obviamente à descapitalização do banco, como resultava do facto de o governador ter dito que essa informação era muito importante para perceber o que tinha sucedido ao bes --, fui ouvir, nas gravações automáticas da tvi24 (que foi onde encontrei a comunicação), o que carlos costa disse exactamente. é que das duas uma: ou ele está com uma falha de memória ou eu (e pelos vistos mais gente) ando a ouvir cenas.
eis o que disse o governador:
‘por último, gostaria de deixar uma nota que me parece importante, eu diria mesmo muito importante, para perceber os desenvolvimentos do bes ao longo do ultimo ano. o ges, através de entidades não financeiras e não sujeitas à supervisão do banco de portugal e situadas em muitos casos em jurisdições que são de difícil acesso, desenvolveu um esquema de financiamento FRAUDULENTO entre empresas do grupo. a experiência internacional evidencia que esquemas deste tipo são muito difíceis de detectar antes de entrarem em ruptura, em especial quando a actividade é desenvolvida em várias jurisdições. repito: este tipo de esquemas normalmente só é identificado quando entra em ruptura. o bdp conseguiu identificar uma ponta do problema porque desenvolveu uma acção de inspecção que foi para lá do perimetro normal de supervisão, uma auditoria às empresas não financeiras que constituem os principais clientes do banco. (...) quando esta ponta do problema foi identificada em setembro de 2013, o bdp desenvolveu uma política de isolamento dos riscos do bes em relação às restantes empresas do grupo. esta política foi progressivamente reforçada ao longo do último ano e foi no quadro do aperto do cerco que o bdp estabeleceu que as empresas do ges começaram a entrar em incumprimento.’
parece-me que resulta razoavelmente claro do que está transcrito que o que carlos costa disse é que desde setembro de 2013 sabia ou suspeitava fortemente de fraude relacionada com o bes, fraude essa que consistia no financiamento fraudulento das empresas do grupo através do banco -- de outra forma não se compreende que diga que foi a acção do bdp ao isolar o banco que levou as empresas a soçobrar. como é que isto é para o governador 'não falar de fraude' ultrapassa por completo o meu entendimento, mas diga-se de passagem que esta, digamos, 'inexactidão' é das menos graves que lhe ouvi ontem.

